Evitei comentar o crime terrível que ceifou a vida de quatro crianças, recentemente em Santa Catarina, pois no calor das emoções nossas opiniões são distorcidas pelos sentimentos ruins que certamente irão aflorar diante de algo tão terrível.
Também não é exatamente sobre o ocorrido que pretendo divagar nas próximas linhas, mas mergulhar nos conceitos cristãos que foram bastante discutidos ao longo da última semana e que envolvem perdão e justiça.
É fato que o perdão é uma ordenança divina e que envolve nossa própria existência futura uma vez que, as Escrituras afirmam que o perdão que obtemos de Deus é diretamente proporcional a nossa capacidade de perdoar.
Liberar perdão é uma espécie de válvula de escape em momentos de tensões fortes e é muito mais benéfico para quem libera o perdão do que para quem o recebe. Pois perdoar nos livra do ódio e rancor, da sede de vingança e da vontade de retribuir na mesma proporção o mal que foi praticado.
Já para quem foi perdoado, este ato, embora seja consolador por um lado, por outro não remove a culpa pelo delito cometido. Muito pelo contrário, ser perdoado aumenta a sensação de não merecimento e nos traz a certeza de quão imperdoáveis somos.
Foi isto que Jesus fez por nós, ao pagar o preço que nós deveríamos pagar sem nos imputar a cobrança da dívida, nos perdoando de nossos pecados e da nossa rebeldia em relação ao Eterno Criador. Não merecemos este perdão, não somos dignos ou capazes de obtê-lo por nossos próprios meios ou esforços. Somos indesculpáveis, seres que se opuseram a Deus preferindo ouvir as mentiras de Satanás. Somos seres corrompidos que, mesmo reconhecendo a nossa condição de pecadores, mesmo nos arrependendo dos nossos pecados e mesmo entregando nossas vidas nas mãos de Deus, ainda assim não estamos prontos para seu Reino. Ainda precisamos ter nossos corpos transformados e purificados para só então nos apresentarmos diante do Todo Poderoso.
No entanto mesmo com tudo contra nós, Ele nos perdoa. Mas existe um porém. Sim, Deus nos perdoa verdadeiramente mas não nos livra das consequências dos nossos erros e é neste ponto que entra um outro princípio bíblico tão importante quanto o perdão: A Justiça!
No Evangelho de Jesus Cristo escrito por Mateus no capítulo 5 e verso 6 Jesus, em seus ensinamentos sobre o viver cristão nos adverte que: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”.
Quando a Bíblia utiliza o termo Fome e Sede é uma forma de nos dizer que isto é tão vital para a nossa existência quanto alimento e água, ou seja, sem isso morremos. Justiça é uma característica fundamental do viver cristão. Infelizmente a nossa sociedade, e mesmo os cristãos, foi corrompida por conceitos não bíblicos que exige que o agressor seja perdoado mas esquece da injustiça sofrida pela vítima.
Quando um dos ladrões que foi crucificado junto com Jesus, reconheceu sua condição e que o Cristo era o próprio Deus, ele pediu clemência! Jesus o perdoou e ainda afirmou que este iria para o paraíso junto com o Messias. Não obstante a isso, em momento algum o Mestre o livrou da cruz, da punição pelos seus crimes. Isto nos ensina que: perdoar, não é tirar a culpa ou livrar da pena merecida. Até porque a punição não é uma forma de vingança, mas sim uma oportunidade para que o transgressor possa refletir sobre sua atitude e, quem sabe, arrepender-se verdadeiramente. A disciplina, quando aplicada nos moldes bíblicos, é em si mesma um ato de amor que não visa dar prazer ao executor mas trazer arrependimento ao transgressor.
As vidas que foram perdidas não serão devolvidas aos seus pais, não voltarão a brincar, não irão crescer, e o coração dilacerado de seus país levará muito tempo para ser reparado e é provável que nunca o seja. Mas o mínimo que uma sociedade, com um pouco de dignidade, pode fazer é punir o criminoso. É uma maneira de dizer a estas pessoas que compartilha, ainda que em escala muito menor, a dor destas famílias.
E nós, que batemos no peito cuspindo nosso “cristianismo” na face de uma sociedade decadente, o que devemos fazer? Simples, Equilibrar, numa mistura homogênea, o amor que perdoa com a fome e sede de justiça, sem a qual, certamente morreremos.
Pense nisso!
Uma excelente semana a todos, fazendo justiça aos injustiçados e perdoando os injustos. Afinal, como diz a Escritura: A vingança pertence ao Senhor. Romanos 12,19; Deuteronômio 32,35; Salmo 94,1.