sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O Consumo Que Nos Consome

Vivemos um período de consumo como nunca se viu antes na história da humanidade. O novo smartphone que ficará obsoleto em três meses, o carro com faróis de led e acesso a internet, eletrodomésticos que interagem com seus donos, tecidos especiais, comidas especiais, games, filmes, séries, a casa nova, o piso novo, móveis novos, a casa ficou velha, a reforma, a cirurgia corretiva, a academia, os complementos alimentares, o remédio para combater os efeitos dos complementos, a técnica para combater os efeitos dos remédios, o segundo emprego, o terceiro emprego, a graduação, a pós, o mestrado, a promoção, a casa ficou velha de novo e não combina com seu novo cargo, outro carro, a escola para os filhos, a babá para os filhos, a faculdade dos filhos, nunca viu os filhos, ficou velho, morreu, não viveu, não sorriu, não se divertiu.

É óbvio que estou exagerando, mas é isto que vemos todos os dias, em uma escala menor e as vezes até maior. As pessoas sempre com pressa para acompanhar a moda e tirar selfies nos shoppings e postar o mais rápido possível para obter muitos likes e ter a sensação de que é relevante, importante, que tem muitos amigos.

Como diz o dito popular: gastando o que não tem para ser o que não é e mostrar para quem não liga. Esta onda de consumismo tem transformado as pessoas. Não há mais envolvimento emocional e passamos a ser julgados não pelo que somos mas pelo que temos. Este esfriamento das emoções vai paulatinamente minando os sentimentos. Por exemplo: a poucos dias assisti um vídeo de uma briga entre dois adolescentes na frente de uma escola. Uma multidão em volta dos protagonistas dividia-se em grupos: um grupo apenas observava, outro incitava a confusão e outro registrava tudo pelos celulares. Um dos meninos foi atingido por golpes muito fortes e teve uma convulsão e ninguém fez nada até que um senhor que pertence a uma outra geração interveio e foi acudir o jovem.

Não estou aqui questionando os motivos do conflito mas sim a apatia, a sede de violência e o descaso com um ser humano. Eu pergunto: que evolução é esta que tem transformado nossos jovens em feras? Que progresso é esse, onde professores apanham de alunos em sala de aula? Em outros países onde o liberalismo e o relativismo crescem a passos largos, afirmamos que é a falta de Deus que leva as pessoas a este estado de barbárie. Mas, e no Brasil?

Somos um país onde 80% da população se declara cristã, católica ou evangélica, e a outra parte desenvolve algum tipo de espiritualidade religiosa. Que cristianismo estamos vivendo e pregando que forma jovens com sede de sangue? Sinceramente, eu não consigo encontrar uma resposta para explicar este fenômeno. Mas como cristão eu tenho uma certeza. Sei que Jesus transforma o coração e a mente do homem. Não falo apenas por fé, mas por experiência. E se as nossas igrejas não estão obtendo sucesso é porque não estão anunciando o Cristo verdadeiro que pode transformar vidas, como transformou a minha.

A igreja está doente e talvez precise muito mais de Jesus do que aqueles que ainda não o conhecem. Pois também sucumbiu aos apelos do consumo e corre atrás de viabilizar seus projetos que já não são mais de salvação mas de expansão de seu império e esquece que deveria propagar o Reino. E o Reino de Deus não se obtêm com um cartão de crédito!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Tripé do Cristianismo

Quando Jesus esteve entre nós, humanamente falando, ele nos deixou um legado de exemplos para seguirmos e, com isso, nos tornarmos pequenos Cristos sobre a terra, levando as boas novas do Evangelho àqueles que ainda se encontram enredados pelo sistema reinante. Enquanto homem, Cristo sempre foi um ser completo e podemos observar, claramente, três aspectos do seu ministério que devemos desenvolver durante nossa jornada nesta vida. Mas que aspectos são estes?

No filho de Deus percebemos o seguinte: Ortodoxia, ortopraxia e ortopatia. Tentarei de forma sucinta expor estes três pontos a seguir para compreendermos melhor o que é ser um discípulo de Jesus e consequentemente como deve ser a igreja que professa o nome do Cristo ressurreto.

Ortodoxia - Basicamente a palavra significa doutrina correta. Em Jesus vemos uma doutrina que não somente se baseia nas escrituras mas que provém do alto e que dá uma interpretação firme, correta e eficaz dos textos sagrados. Jesus não se prende em devaneios teológicos obscuros, mas vai direto ao ponto de cada questão mostrando que não se deve torcer os escritos para satisfazer um sistema de valores, mas interpretá-los de forma justa e sem rodeios, mesmo quando isso signifique humilhar-se diante das verdades irrefutáveis da Palavra de Deus.

Ortopraxia - Podemos ler como a prática correta das verdades bíblicas. Ao longo de sua caminhada ministerial encontramos o Filho do Carpinteiro colocando em prática os seus ensinamentos, curando enfermos e doentes, libertando os cativos, consolando os desesperados, recebendo os excluídos, alimentando os famintos, ou seja, Jesus não apenas prega o Evangelho mas também o pratica de forma integral, sem titubear ou recuar, levando esta prática as últimas consequências ao entregar-se para ser morto na cruz.

Ortopatia - Trás o sentido de sentimento correto. Jesus fez tudo o que fez movido por uma paixão baseada na obediência ao Pai e no amor incondicional a humanidade. Os sentimentos funcionam como combustível da fé e estão diretamente ligados ao campo da espiritualidade atuando como canal para que a trascendência de Deus possa se manifestar em nosso mundo natural. Pois apesar de ser Deus, somente pelo poder do Pai através do Santo Espírito é que o homem Jesus pôde manifestar o sobrenatural em seu ofício ministerial.

Fracos e dependentes que somos, dificilmente conseguimos desenvolver estes três aspectos de forma plena e equilibrada e tendemos a beneficiar uns em detrimento de outros. Mas isso não é um problema em si. Deus sabia disso o tempo todo e por essa razão deu diferentes capacitações par cada um de nós a fim de que, juntos, possamos ser um e fazer o todo. Com a igreja (institucional) não é diferente. Cada denominação enfatiza uma dessas características mais do que as outras e Deus também já sabia disso. A questão é: Será que as denominações entendem que o Reino funciona assim? Não é o que vemos acontecer.

Ao contrário de ficar satisfeitos por saber que existem grupos complementando o que não é feito por uma comunidade, o que assistimos é uma guerra de egos inflados que afirmam, orgulhosos e prepotentes, deter a doutrina, a pratica e a motivação correta e diminuem Deus ao declarar que fora do seu sistema, Deus não pode operar de maneira eficaz. E seguem vituperando o Cristo ao elencar um cabedal de regras que devem ser seguidas a risca, como uma receita mágica de sucesso.

Não, não é isso que o Messias nos ensinou. O apóstolo Paulo deixa isso bem claro em 1 Co 3, nos versículos 7 e 8 quando escreve: Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho. A igreja precisa entender que somos todos membros de um mesmo corpo e não é o consenso que nos faz prosseguir mas sim o dissenso. São as nossa diferenças que promovem a vasta abrangência do Reino e é assim que devemos prosseguir. Nos amando, ajudando, suportando, repartindo e comungando num mesmo espírito. Que Deus abençoe esta geração que surge com uma nova consciência da multiforme unidade da Igreja em Cristo Jesus.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Modos & Estilos #06 - Supertramp - Crime of the Century

Capa do Álbum
Em setembro de 1974, a banda britânica, Supertramp, lança o seu terceiro álbum de estúdio, intitulado Crime Of The Century (foto) que daria início a carreira de sucesso do grupo.

Ainda influenciados pelo Pink Floyd sem ser tão profundo ou assustador os ingleses valem-se mais de pitadas de bom humor para garantir a penetrabilidade no mercado e conseguem isso em um álbum marcante, leve, sofisticado e impossível de não ser apreciado durante a audição de suas oito faixas brilhantemente assinadas por Roger Hodgson (Guitarra, teclados e vocal) e Rick Davies (Vocal, teclados e gaita). A formação do grupo ainda contava com: John Helliwell (Saxofone, sopros e vocal), Dougie Thompson (Baixo) e Bob Siebenberg (Bateria).

O Álbum


Não me lembro exatamente, quando adquiri este álbum, mas lembro que foi e ainda é um disco especial para mim, não apenas pela musicalidade mas pelas lembranças que ele carrega.

Contra-Capa
O álbum inicia com Scholl que fala sobre as dúvidas da infância e adolescência quando estamos no limiar entre ouvir ou não os conselhos daqueles que tentam nos tornar em adultos e até onde isto é realmente bom ou ruim. A linha de piano e o crescendo que a música vai ganhando é incrível.

Em seguida a alegre e enigmática Bloody Well Right onde a educação formal, mais uma vez é questionada dando ênfase de que tudo se deve ao dinheiro. O piano elétrico é evidente além de um riff puro rock'n roll que finaliza com a linha de sax. Visceral e lindo.

Hide In Your Shell é pura melancolia sobre os medos que enfrentamos para sair de nossas zonas de conforto onde uma melodia quase infantil vai permeando toda a canção que caminha para um grito de socorro

Seguindo a mesma pegada de melancolia temos Asylum, uma ode a loucura. Musicalmente lembra bastante a fase psicodélica dos Beatles com momentos de insana suavidade entrecortados por grandiosa dor e medo da morte. Excelente trabalho de guitarras e arranjos vocais. No LP, está faixa fecha o lado A do álbum.

O lado B inicia com Dreamer que fala daquele sonhador que todos fomos um dia. Alguns desistiram outros porém continuam sonhando. Esta canção tem uma aura divina e, hoje, me remete a história de José. Seu clima intenso lembra alguém que corre, corre, corre em busca de seu sonho e continua correndo até perder-se no horizonte...

Do sonhador saltamos para Rudy, o típico perdedor, que não sonhou, não lutou, apenas esperou sem nunca ter exito. Nunca amou e não foi amado e agora segue num trem que deve, provavelmente, conduzí-lo ao fim da vida. Gosto do clima meio jazz e bossa-nova e da linha de baixo desta música caindo para um clima mais denso em certos momentos e caminhando para uma espécie de fusão jazz/rock. Atenção para a guitarra mute ao fundo. Olhando a evolução da cena musical percebe-se que muita banda pop dos anos 90 bebeu nessa fonte.

If Everyone Was Listening fala de um show mas na minha visão fala da vida como uma grande peça onde é preciso representar bem o seu papel e ainda correr o risco de não haver ninguém para vê-lo ou aplaudí-lo e talvez sejamos apenas o último palhaço. Uma bela peça.

Para encerrar, a canção que dá titulo ao disco: Crime Of The Century fala de uma conspiração que pretende raptar o universo sem se importar com a humanidade. O trabalho da guitarra é impecável e é a música que mais remete ao Pink Floyd.

Resumindo


Formação em 1974
Trata-se de um álbum memorável e na minha opinião, o melhor da carreira da banda e que me trás muitas recordações de minha infância e adolescência, quando comecei a descobrir a música como pano de fundo da minha existência. É interessante ainda, ouvir este disco, tantos anos depois, com uma cosmovisão diferente da que eu tinha na época. Incrível como, algo que tem mais de quarenta anos ainda soe tão atual, quer na mensagem quer na musicalidade. Recomendo a audição desta obra prima do Rock progressivo setentista.



Não ouviu ainda, pois então segue o link para audição.

Supertramp- Crime Of The Century (1974)