Quando eu tinha onze anos, isso foi há muito tempo, no finalzinho de 1973, eu tive meu primeiro contato verdadeiro com a música. Nesta época eu morava em Curitiba, na rua Senador Alencar Guimarães, bem no centro da cidade. Nós alugávamos um quarto, na casa da frente, onde hoje existe um hotel, para um cara muito louco e cabeludo. Não me lembro o nome dele mas lembro do apelido: Peninha. O Peninha era meio (ou inteiro) hippie. Eu era criança e gostava de ir lá pois ele ouvia uma música legal. Lembro-me como se fosse hoje daquele disco com a capa preta com um triangulo e um risco branco e outro todo colorido como um arco-iris (era assim que eu via). Sim, estou me referindo ao The Dark Side Of The Moon do Pink Floyd. Pela primeira vez ouvi algo de uma maneira diferente: prestando atenção. Fui fisgado.
1973 - The Dark Side Of The Moon - Pink Floyd - Harvest/EMI |
Não pretendo nesta série de artigos fazer uma longa e profunda análise de álbuns e gêneros musicais. Apenas quero compartilhar aqueles discos que foram importantes e que eu considero relevantes na história da música e na minha formação.
Considero este álbum um marco. Não vejo o Pink Floyd como uma banda perfeita, pois trata-se de um grupo cheio de altos e baixos. Aprecio três ou quatro álbuns de sua carreira a saber: The Piper At The Gates of Down (1967), Medle (1970), The Dark Side Of The Moon (1973) e Wish You Were Here (1975) e destes o Dark Side para mim é definitivo.
Como mencionei anteriormente, não vejo o Pink Floyd como a melhor banda do mundo, mas é sem dúvida uma banda única com um timbre peculiar e exclusivo. Foi a banda que me mostrou e me fez amar a cena Prog Rock. Mas vamos ao álbum.
Dark Side inicia com a emblemática Speak To Me com seu batimento cardíaco indicando que há vida, muita vida e loucura nas faixas seguintes. A segunda faixa é On The Run que é fiel ao título nos remetendo a uma corrida desenfreada que tanto pode ser uma fuga como uma busca. Em seguida temos a super conhecida Time com seus relógios, sua levada suave que fala sobre a vida e quanto desperdiçamos em nossa caminhada. O solo de guitarra de David Gilmor é primoroso. Lembro-me do Maurício Moura de Almeida (In Memoriam), irmão do Márcio Hulk que tocava este solo na guitarra quando morávamos no Leme (Rio de Janeiro), época em que o Márcio tocava bateria. Na sequência temos, na minha opinião, a melhor música do disco: The Great Gig In The Sky, um Blues que conta com a participação da cantora Clare Torry descoberta num estúdio pelo então produtor Alan Parsons. A próxima faixa é Money que tem uma linha de baixo animal feita em cima de um arpejo em Bm (Si menor) em compasso 7/4, além de um solo de sax executado pelo lendário músico de estúdio Dick Parry. A faixa Money foi a única do álbum a entrar para o Top 20 da Billboard. Depois de Money temos Us And Then, uma suave melodia entrecortada por um refrão mais agressivo que fala de vida e morte. Simplesmente linda com seus teclados esbanjando timbres maravilhosos. É a faixa mais longa do álbum. Ao final emenda com Any Colour You Like, um instrumental primoroso onde mais uma vez o casamento entre os teclados e a guitarra é perfeito completados por uma cozinha de dar água na boca. A próxima faixa é Brain Damage, uma homenagem a Sid Barret, fundador da banda e que se perdeu, ou se encontrou, em suas próprias fantasias após um colapso mental promovido pelo uso excessivo de drogas. O disco acaba com a apoteótica Eclipse que mais uma vez se refere a vida e finaliza com o coração pulsante do início que agora soa calmo e sereno indicando que nada terminou.
Concluindo. É um grande álbum que deve ser ouvido e apreciado com muita atenção. Escutando agora, sob uma ótica diferente, após tantas décadas, este disco soa mais brilhante e perfeito, quase cristão e na minha opinião pessoal, o melhor trabalho da banda.
Até a próxima!