Antes que você me condene por blasfêmia vamos entender alguns contextos para compreender porque eu considero o movimento punk, principalmente nos anos 80, como uma voz profética, um instrumento divino para trazer uma mensagem para o mundo. Para isso, precisamos retroceder no tempo e entender o que estava acontecendo no planeta antes da explosão do punk em meados dos anos 70.
A Decepção do Vietnã
Com o fim do segundo conflito mundial em 1945 o mundo entrou no modo reprodução conhecido como a geração Baby Boomer, devido a uma explosão de bebês em todos os cantos do planeta. Paralelemente Estados Unidos e a antiga União das Repúblicas Soviéticas iniciaram um período conhecido como Guerra Fria onde tínhamos dois buldogues rosnando um para outro para mostrar quem era mais forte e possuía mais dentes. Enquanto isso os vizinhos ficavam quietos como medo dos cães raivosos tanto do ocidente quanto da Ásia.
Mas o ser humano é um eterno pecador a procura de poder e domínio e não demorou muito para que os dois protagonistas começassem a mostrar suas garras através de marionetes o que resultou em conflitos como o do Vietnã.
Não vou aqui entrar nos pormenores desses e outros conflitos mas apenas pontuar que estas novas atividades bélicas foram uma espécie de balde de água fria sobre uma população que acreditava ser possível uma era de paz e harmonia entre os povos.
O Poder das Flores
A resposta veio da juventude americana que não queria mais saber de guerra e sim de sexo, drogas e boa música. O movimento Hippie surge arrebatando milhões de jovens em todo o planeta. A psicodelia movida por substâncias lisérgicas e o abandono dos valores tradicionais das gerações anteriores que só fabricaram guerras foi substituído por muito esoterismo, sexo livre, festivais de virtuoses e muita bebida e substâncias entorpecentes.
No entanto, por trás deste sonho transcendental também havia uma indústria química ávida por novos consumidores além de gravadoras que faturavam fortunas através das inúmeras vertentes musicais, grupies que nem sabiam com quantos "artistas" passaram a última noite e evidentemente, doenças, crimes e muitas outras coisas que não dá para mencionar aqui.
Mais uma vês o ser humano caído, desde o Éden, fez o que sabe fazer melhor: cair em desgraça e imoralidade.
A Resposta Punk
Enquanto uma galera ainda nutria o sonho de um mundo melhor ao som do rock progressivo, jovens pobres e desempregados sem dinheiro para comprar sintetizadores moog muniam-se de guitarras baratas e começaram, num primeiro momento, a voltar as raízes, a base do rock simples, promovendo uma ruptura com o establishment vigente.
Tanto na velha Europa quanto no Estados Unidos, surgia uma nova geração que já não acreditava numa possibilidade de Paz e Amor. Vale ressaltar que, apesar de ter estourado no velho mundo, os primeiros artistas dessa nova tendência eram, em sua maioria Estadunidenses e mesmo antes dos anos setenta já encontramos ícones do proto-punk como: The Stooges e MC5, ambas de Detroit. Já nos anos 70 vemos outros ícones como New York Dolls, Death (considerada como o punk antes do punk), Television e os Ramones que são considerados como o marco zero do movimento, junto com os Ramones ainda temos The Dictators e o Patty Smith Group. Do outro lado do planeta, na Autrália surgia o The Saints enquanto que na terra da Rainha Elisabete e dos Garotos de Liverpool apareciam em cena The Damned, Sex Pistols e The Clash.
No entanto esta primeira geração promove um rompimento com as estruturas que vigoravam na cena cultural mas ainda não é a voz profética que viria a seguir mas são eles que abrem o caminho para o próximo Ato.
Instrumentos de Deus?
Agora a gente entra nos anos 80, quando o punk endurece, se radicaliza e ganha mais consciência política, mergulhando em temas como guerra nuclear, repressão estatal, desigualdade, caos urbano e o colapso da humanidade — tudo isso com letras que soam como profecias distópicas.
É neste cenário que surgem uma série de bandas gritando que o mundo não vai melhorar: que os homens continuam maus, as guerras continuarão, a ganância crescerá e que estamos caminhando para o fim, para a aniquilação final e que não podemos viver na ilusão.
Bandas como: Crass, Discharge, Rudimentary Peni e Doom no Reino Unido, Dead Kennedys nos USA, Ratos de Porão e Cólera no Brasil, Kukl na Islândia, Lärm na Holanda, Los Violadores na Argentina, Eskorbuto na Espanha além de muitas outras espalhadas pelo planeta anunciam em alto e bom som que o fim está próximo.
Com certeza esses artistas, muitos até anticristãos não tinham a menor consciência de que eram instrumentos do Criador. Talvez seja por isso que existem tantos punks seguidores de Cristo na atualidade, pois já eram escolhidos, só não sabiam disso.
A Mordaça do Sistema
Nos anos 90 e adiante, o sistema, maligno por sua própria natureza e extremamente eficiente em silenciar as vozes dissonantes cooptou muitas dessas bandas e artistas com a sedução do dinheiro, de bons estúdios e do status. Não é atoa que hoje vemos muitos punks defendendo ideologias políticas e totalitárias apáticos e irrelevantes, fazendo selfie com políticos corruptos e negando tudo aquilo que falaram nos tempos mais remotos.
Correndo Pela Tangente
A partir dos anos 90 nos deparamos com muitos punks se convertendo ao evangelho e mantendo acesa a chama daquela voz empenhada em anunciar o caótico futuro a frente dos nossos olhos cegos pelas benesses do mundo moderno. São estas bandas que mantem o legado do punk, não que não existam bandas punks autenticas, fora do cristianismo. Não é isso que estou falando, mas o que eu vejo no punk rock feito por seguidores de Cristo é justamente o que sinto falta em outras bandas. Inconformismo com a injustiça. Mas isto é assunto para outra postagem. Agora o mais importante é ver que caminho seguir.
E Daqui Para Frente?
Não tenho nenhum dúvida de que estamos vivendo os últimos tempos da história da humanidade. A maldade, a falta de amor e empatia, a criminalidade, controle das massas, corrupção, experimentos com a população, ganância e toda sorte de males nunca foram tão evidentes. Em contra partida a natureza tem gritado com mais intensidade e periodicidade com catástrofes sem tamanho, a tecnologia engole a capacidade do ser-humano de criar sua própria cultura.
Creio que nunca foi tão necessário que esta voz profética soe novamente em alto e bom som para acordar esta geração adormecida!
O Punk não Morreu!