quinta-feira, 23 de abril de 2015

Bíblias, bonés e camisetas! Compre e seja abençoado!

Tenho acompanhado a polêmica em torno do lançamento da Bíblia Apostólica Thalles Roberto Ide, que alvoroçou as redes sociais nos últimos dias. De acordo com o cantor, a ideia de lançar a Bíblia nasceu de uma constatação de que os jovens não leem as sagradas escrituras e que a sua influência, enquanto celebridade, poderia ser utilizada como incentivo a leitura do livro divino.


Deixando de lado a qualidade musical, questionável, do trabalho do Thalles, não há como negar que o moço é marqueteiro profissional. A carreira com crescimento meteórico deste mineiro, do município de Passos, vem acompanhada de um marketing feroz onde cada passo é minuciosamente planejado. Filho de pastor, Thalles cresceu na igreja Sara Nossa Terra cercado de música. Com talento de sobra o menino sonhou alto e foi para o mercado secular junto com a banda Jota Quest por cinco anos. Neste tempo conheceu muita gente, aceitou convites, participou e maravilhou-se com o mainstream. O tempo o trouxe de volta a igreja com uma bagagem comercial que poucos possuem no meio gospel.

O chamado divino (não questiono isso), atrelado ao conhecimento dos mecanismos mercadológicos lançou a jovem artista para um sucesso extraordinário. Musicalmente não há nada de novo; seu trabalho é popular, de fácil assimilação, garantindo boa aceitação e bons lucros. Não é um missionário; é um artista, profissional, que sabe muito bem o que faz. Está aproveitando o momento. Sua loja vende camisetas, bonés, livros e até a sua bíblia pessoal com direito a fotos, biografia, tudo a um precinho meio salgado para a realidade brasileira. Ou seja: ele faz exatamente o que se propôs a fazer.

Mas mudando de assunto, vi e li um monte de gente falando e escrevendo a respeito deste fato, uns de forma mais simpática e outros mais agressivos, que o cara só está interessado em lucro, que isto e aquilo e aquilo outro. Vamos considerar algumas coisas:

  • O nível de leitura do brasileiro em geral é baixíssimo.
  • Mesmo entre os que leem ainda existem os analfabetos funcionais.
  • Incentivar a leitura da bíblia é uma atitude louvável.
  • Não vi ninguém dos que criticaram, inclusive eu, fazendo algum esforço, doando bíblias, etc.
Não curto Thalles Roberto, acho sua música, uma música pobre em conteúdo, mas creio que podemos (eu e você) ser mais relevantes agindo no lugar de ficar apenas criticando. É muito fácil apontar os erros dos outros. Como igreja precisamos acordar e tirar nossos traseiros do conforto do sofá e fazer algo útil pelo Reino do qual dizemos que somos embaixadores. Deixa o Thalles pra lá! Vamos fazer algo, nos unir, ser bíblias vivas trabalhando pelo bem comum de todos, independente de cor, gênero, religião. Amando as pessoas e compadecendo-se delas e de nós mesmos que muitas vezes não vemos que somos pobres, cegos e nus. Não se muda a realidade com críticas e sim com ações. Ele está agindo, talvez da forma errada, não sei! Mas e nós, o que estamos fazendo?

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Raquel Maiden, Vá De Retro, São Tanaz...

Recentemente, numa entrevista concedida à rádio Jovem Pan AM, a jornalista e âncora do SBT, Rachel Sheherazade, perguntada sobre suas preferências musicais, afirmou que é fã da banda britânica Iron Maiden. Pronto, foi o suficiente para uma enxurrada de "crentes" indignados acusando a bela e inteligente Rachel de mundana, não convertida e por aí vai, isto sem falar nas acusações de que a banda é satânica, etc, etc etc, e blá, blá, blá!


Nunca fui muito fan do Iron, musicalmente prefiro o Metallica, questão de gosto, mas vamos ao Iron. Trata-se de uma banda de performance, quase um teatro, os temas das letras remetem a história antiga e casos de amor. Muitas vezes a temática das letras remete ao mal sem fazer apologia mas meio que abrindo o jogo. Honestamente não vejo no Iron este tal satanismo. O que percebo é um marketing muito bem estudado. Mais que uma banda, Iron Maiden é uma empresa de entretenimento. Lógico que não sou inocente, suas letras não te levam a dobrar os joelhos e orar mas a questionar a natureza humana que insiste em correr para o mal. Mas existe uma lição importante em tudo isso: como é fácil emitir julgamentos.

Seres tão humanos, sempre dispostos a apontar, criticar e condenar outros seres, esquecendo-se de que um dia todos deverão apresentar-se diante do grande tribunal. E neste dia não será questionado o gosto musical de ninguém mas sim as obras executadas neste mundo. Não é hora nem momento para preocupações desta natureza, mas sim de manifestar o Reino de Jesus Cristo entre os homens, não com guerra de gêneros, mas com ações de amor ao próximo. Mas quem é o seu próximo? Como diz o DH, próximo é aquele que está ao alcance das suas mãos...

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O que é underground #02 - Não é Rock!

Tenho percebido, através de conversas e leitura de comentários, que uma grande parte das pessoas associa o universo underground com a cultura do rock. Embora o rock em suas inúmeras vertentes se manifeste, de muitas formas, num conceito mais underground, devemos compreender que nem toda música rock é underground e nem toda música underground é rock. Para isso, é fundamental entendermos o que é underground. Para isso eu recomendo outro artigo deste blog: O Que é Underground #01.

Como você pôde ler, nosso conceito de underground é de algo mais profundo em qualidade, informação e relevância para o meio. Partindo deste pressuposto entendemos que o universo da cultura underground é bem mais abrangente e não se restringe a um estilo musical. No Brasil associamos a produção underground à produção marginal pois é fato que a mídia aberta não abre espaço para o artista independente, deixando trabalhos sensacionais longe do alcance das massas. Não quero acreditar que isso seja intencional mas não posso negar que não há interesse em levar ao grande público conhecimento que gere reflexão e questionamento. Ou seja: deixe a massa com sua novelinha, sua dupla sertaneja e com o noticiário mascarado da TV aberta.

Cena do Filme "A Clockwork Orange" de Stanley Kubrick
Neste caso, ser underground é uma forma de reagir a estas imposições da grande mídia produzindo e consumindo material alternativo que informe e revele aquilo que realmente importa. Um bom exemplo disso é a cultura do fanzine ou simplesmente zine.

É pra ler, ou pra comer?

Fanzines são uma alternativa à imprensa oficial. Basicamente o termo deriva-se de duas palavras fan e zine que por sua vez são abreviações de fanatical e magazine, ou seja: Revista de Fan (Apaixonado). Os primeiros fanzines surgiram na década de 30 nos EUA e eram basicamente dedicados a Ficção Científica. Mais tarde este tipo de publicação foi ganhando força e abrangendo outras áreas como, música, arte, cinema, jornalismo, quadrinhos, moda e atividades do cotidiano, chegando a ter fanzines que falavam sobre outros fanzines como é o caso Factsheet Five (foto).

Factsheet Five - Fanzine sobre Fanzines
Muitos fanzineiros com o tempo acabaram sendo contratados por revistas profissionais mas outros mantiveram-se independentes e mesmo assim conquistaram um grande público e ainda estão vivos, como é o caso do fanzine punk, Maximumrocknroll (foto) lançado em 1977 e ainda na ativa (até esta postagem estava na edição #384).

Primeira edição do Maximumrocknroll
Fanzines são produzidos para nichos específicos, de forma alternativa e muitas vezes artesanal, podem ser vendidos doados ou trocados. 

No Brasil

O primeiro fanzine produzido em terras tupiniquins, que se tem notícia, chamava-se FICÇÃO (foto) e foi publicado em 12 de outubro de 1965 pelo piracicabano Edson Rontani

Primeiro Fanzine Brasileiro - 1965
Nos anos 80, tivemos uma proliferação de fanzines. Era a melhor maneira de circular informação alternativa sobre os mais variados assuntos. O movimento punk, na época, abraçou de tal maneira a mídia que este formato de publicação, por um bom tempo, ficou associado a cena. Na região sul tivemos muitas publicações como o curitibano Inquérito (foto) e o gaúcho Leve Desespero (foto).



Para uma informação mais detalhada do assunto, indico o documentário Fanzineiros do Século Passado, disponível no Youtube e postado logo abaixo:

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Se no início do novo milênio, esta mídia parecia estar morrendo com o advento da internet, nos últimos anos, a partir de 2011 os zines vem ganhando força novamente, merecendo até mesmo destaque em jornais de grande circulação como é o caso da Folha de São Paulo em matéria publicada em 4 de maio de 2014. Leia aqui, inclusive com eventos como a Ugra Zine Fest que em 2013 chegou a sua terceira edição.

Fanzines Cristãos?


Conclusão: os fanzines estão mais vivos do que nunca. E com as facilidades tecnológicas estão cada vez melhores, pode ser E-pub, PDF, ou de papel. O importante é ter um alternativa à imprensa oficial que só quer nos enganar.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

O Deus Incômodo!

Após quase duas décadas de convivência cristã, percebo que existem basicamente dois evangelhos sendo pregados nas instituições religiosas de vertente supostamente cristã. Um é humano e outro é bíblico. Evidente que olhando assim a grosso modo, devemos nos ater, deter, compreender e viver o evangelho bíblico, uma vez que temos nas sagradas escrituras a expressa vontade de Deus para nossas vidas. Mas é exatamente neste ponto que reside a maior dificuldade para nós.

Examinar as Escrituras
Ao lermos as Sagradas Escrituras, buscando o correto entendimento, começamos a perceber o quanto somos falhos e a imensa quantidade de mudanças necessárias em nossas vidas. A Palavra de Deus nos incomoda, pois ela revela nossa miséria e ilumina nossos caminhos tortos. É uma palavra que nos cobra atitudes que na maioria das vezes vem contra os nossos desejos, sonhos e anseios. Ela nos tira do centro e coloca a pessoa de Jesus Cristo como principal objetivo de nossas vidas. Nos desnuda diante da verdade e como um espelho que espelha a alma nos mostra como realmente somos: egoístas, imaturos e escravos de desejos plantados em nós por um sistema que só quer o nosso trágico fim.

Por outro lado, se aceitarmos este confronto, compreendermos que precisamos mudar nossa conduta e se agirmos em prol das transformações necessárias, percebemos que esta mesma palavra que parece tão cruel é a mesma que nos liberta das amarras do conformismo, das prisões do legalismo, do peso da depravação humana! É nesse momento, em que rompem-se os grilhões, que saímos da cegueira  e começamos a enxergar o mundo de ilusão que nos cercava e podemos vislumbrar, ainda que de lampejo, o Reino do qual somos herdeiros e não percebíamos.

Este é o evangelho que temos que viver, um evangelho que não é fácil pois nos tira do centro das atenções, um evangelho que não busca bençãos meramente humanas, que não promove espetáculos, que não ignora a miséria humana, que não busca a auto-promoção, que não está sob os holofotes, que não sobe nos palcos, mas que liberta da mentira, do engano, da ilusão. Um evangelho que não é baseado em grandes pregadores, cantores ou estrelas gospel, mas que se volta e se rende ao único e soberano Deus. É este o evangelho que precisamos. O evangelho de Jesus Cristo!

Pensei em falar sobre o outro evangelho. Aquele da mentira, do engano, do tapinha nas costas, da prosperidade infinita. Até pensei. Mas, não preciso dele!

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Música Cristã em Fases

Embora eu tenha apenas 19 anos de vida cristã, meu contato com a música de raiz evangélica é bem anterior a minha conversão, em 1996. Há algum tempo que venho acompanhando a cena cristã nacional e me permito fazer uma análise do desenvolvimento desta "arte" a partir de observações pessoais que podem não refletir a opinião da maioria mas que considero interessante compartilhar uma vez que existe uma lógica coerente no meu raciocínio. Devo salientar que estas observações tem como contraponto comparativo uma cultura musical forjada desde a infância com base na MPB, Música Erudita e o universo da música rock em suas mais variadas vertentes. Dito isto vamos lá!

Para uma melhor compreensão, proponho uma divisão da história da música cristã evangélica em quatro fases a saber: 
  • Primórdios - Anterior a década de 50
  • Primeiro Amor - Da década de 50 a década de 80
  • Profissionalização - A partir da década de 80
  • Sofisticação - A partir do novo milênio

Primórdios

De acordo com o colecionador e pesquisador Salvador de Souza, em seu livro História da Música Evangélica no Brasil, o primeiro registro fonográfico de uma música evangélica por essas terras foi realizado em São Paulo, por José Celestino de Aguiar e pelo Rev. Belarmino Ferraz, no ano de 1901, em um disco de cera. Existem  ainda registros da Igreja Evangélica Fluminense em 1916, 1936, 1944, 45 e 46 em vinil de 78 rpm. Existem outros registros mas é tudo muito rudimentar.

Primeiro Amor

Esta segunda fase, que eu optei por chamar de primeiro amor, começa na década de 50 e se caracteriza por canções apaixonadas. São mensagens de salvação e conversão mas a qualidade técnica é bastante fraca. Lembro-me das produções que eu escutava na casa dos meus parentes nos anos 70. Aquela guitarra estaladinha, orgão Saema e bateria só para manter o ritmo. Mas é o início de uma tomada mais comercial. Até onde se sabe, o primeiro LP evangélico foi gravado em 1955 por Luiz de Carvalho.


Após isso começa uma explosão de cantores, ritmos e tem início a formação de um mercado de música cristã com o surgimento de grandes nomes do meio. Nos anos 60 vemos a introdução de ritmos populares e de instrumentos antes demonizados. No final da década de 60 a Missão Vencedores Por Cristo inicia uma revolução no evangelismo com base na música lançando em 1968 seu primeiro trabalho.

Profissionalização

A década de 80 marca o início de uma preocupação cada vez maior com a profissionalização e a qualidade técnica das gravações. Também é na década de 80 que o termo gospel começa ganhar força através da gravadora Gospel Records, da igreja Renascer em Cristo. Trata-se de uma década que marca o boom da Música Cristã Brasileira.

Se por um lado a música cristã ganha terreno por outro a mercantilização começa a produzir obras de conteúdo teológico duvidoso. Outro ponto negativo é que a música cristã começou a seguir tendências da moda. Esta corrida pela parada de sucessos acabou por criar uma indústria de produção em massa.

Houve também uma importação cada vez maior de modelos estrangeiros, como Hillsong, ou seja: a música ganhou em produtividade e técnica mas perdeu em qualidade musical, cultural e em conteúdo.

Sofisticação

O início do novo milênio trouxe consigo uma nova fase na música cristã. Eu costumo chamar de fase da sofisticação, ou a fase da arte. Se de um lado temos uma industria muito forte baseada em lucros produzindo muita coisa de qualidade duvidosa, do outro lado temos uma cena cristã independente e mais underground crescendo e se fortalecendo. A música cristã brasileira começa a produzir muita coisa boa e inovadora, que foge aos padrões estabelecidos pela industria fonográfica gospel. Um bom exemplo disso é o CD Reencontro (foto), do artista Thiago Holanda. Jazz da melhor qualidade com participações pra lá de especiais.

Capa do Álbum Reencontro de Thiago Holanda
E não é só isso, muitas bandas e artistas em diversos segmentos, tem surgido neste novo cenário da música cristã ou feita por cristãos com um diferencial criativo nunca visto antes. Do Pop ao Rock, do Jazz a MPB passando pela Bossa Nova, Reggae e música experimental como é o caso dos cariocas do Ruah Jah com o fantástico Rádio Jah (foto).

Capa do álbum Radio Jah Vol.1 do Ruah Jah
No lado do mainstream temos uma nova safra de artistas como: Marcela Taís, Lorena Chaves, Fábio Sampaio e artistas que se renovaram e melhoraram muito, como é o caso da banda Resgate, entre outros. Já a cena underground vem num crescendo tanto na área do louvor com artistas independentes como: Crombie, Marco Telles como na área mais rock com cenas em todo Brasil, como é o caso do selo Cristo Suburbano, criado para facilitar a distribuição de material de bandas independentes.

Aliás, para quem acha que a cena underground é mais uma brincadeira de moleques, cito dois casos. A banda paulista Antidemon que atualmente é contratada da Rowe Productions, gravadora do renomado Mortification e a Living Fire que faz parte do selo californiano Thumper Punk Records.

Capa do Álbum da Living Fire
Lógico que este artigo não esgota, de forma alguma, o assunto, mas nos dá um alívio de saber que mesmo em meio a tanto lixo "gospel" existe uma música cristã honesta e de qualidade sendo feita por aí.