quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Modos & Estilos #022 - The Beatles - Abbey Road

Falar sobre os Beatles é como chover no molhado. Goste ou não, os rapazes de Liverpool formaram a banda de rock mais importante de todos os tempos. 
Não vou contar aqui a história desta banda, pois ela já foi contada e recontada por gente infinitamente mais capacitada do que eu. Desta vez quero compartilhar a minha experiência pessoal quando escutei este álbum e como ele tem sido importante para mim. Abbey Road me fez enxergar Os Beatles de uma outra perspectiva e abriu a minha mente para as possibilidades da música. Confesso que sempre achei a banda muito chata, pois não conseguia ver o que estava por trás daquilo tudo, mas quando este álbum chegou e o escutei eu pude perceber o tamanho da evolução da banda.

O Abbey Road foi o penúltimo álbum do quarteto a ser lançado oficialmente, embora tenha sido o último a ser gravado, o que faz deste disco, na prática, o último disco dos caras. Diferente de Let It Be, existe uma atmosfera de trégua nos ânimos que andavam extremamente acirrados, principalmente entre John e Paul, embora o chato do Lennon tenha feito uma série de objeções durante as gravações. A atmosfera deste álbum é de despedida. Parece que todos, embora não fosse oficial, sentiam em seus íntimos que este seria o último trabalho do quarteto e, por conta disto, se esforçaram para dar o seu melhor.

George Harrison está bem mais a vontade e criativo neste álbum. O mesmo pode ser dito de Ringo que parece ter deixado de lado seu complexo de inferioridade imprimindo uma levada simples, porém precisa. A produção de George Martin é exuberante e o álbum ainda conta com a participação dos teclados de Billy Preston. O Uso de órgãos Harmond e de Sintetizadores Moog se destacam bastante neste trabalho que soa bastante progressivo.

Alem de toda a caprichada produção musical temos a capa que ser tornou um verdadeiro ícone. Não trás nenhuma informação a respeito do álbum e da banda. O local da foto virou ponto turístico e a imagem já foi parodiada no mundo todo, até pelos Simpsons.

As Músicas


Abbey Road abre com Come Together, uma obra prima de Lennon que havia escrito, originalmente, a pedido do Papa do LSD, Timothy Leary, quando iria concorrer ao governo da Califórnia. É ácida e pesada, perfeita para abrir um disco tão importante. Na sequência vem a balada Something que Harrison escreveu para sua esposa, uma música linda com um solo lindo, da época que solos falavam e não eram só uma demonstração de técnica e velocidade. Maxwell's Silver Hammer é de Paul e, segundo reza a lenda, foi um tormento para ser gravada. Conta a história de um maníaco homicida. Oh Darling também é uma canção de Paul que remete ao estilo musical dos anos 50 muito bacana de se ouvir. Octopus's Garden é uma música composta pelo simpático Ringo. A Música tem um clima meio infantil, como num parque de diversões. A Guitarra de Harrison dá o toque. Cativante e cola na primeira audição. I Want You (She's So Heavy) uma junção de duas músicas inacabadas de Lennon, com um clima bem progressivo e um solo vocal de arrepiar. Fantástica. Here Comes the Sun é mais uma obra prima de Harrison e mais um sucesso. Foi regravada por muita gente de peso e é um balsamo para uma alma cansada. Because é um tema vocal composto pela dupla mágica Lennon e McCartney uma verdadeira aula de harmonia. You Never Give Me Your Money é uma espécie de pout pourri de músicas inacabadas de Lennon e McCartney. Uma peça e tanto, com muitos efeitos e intervenções sonoras, psicodelismo a flor da pela. Sun king é mais uma da dupla Lennon & McCartney com um clima bem marcado pelo baixo e efeitos de canais entrecortados por vocalizações exuberantes. Mean Mr. Mustard e Polythene Pam são duas músicas de Lennon que ele não considerou boas mas que dão um clima bem bacana no disco. She Came in Through the Bathroom Window é de Paul e parece remeter a uma fã que havia entrado furtivamente no local. Golden Slumbers e Carry That Weight também é de Paul, na verdade são duas músicas unida em uma. Um belíssimo trabalho de orquestração e um clima grandioso com a voz impecável de Paul. The End teoricamente é para ser a última música do disco, composta por Paul ela fecha o disco e a carreira da banda mais importante do planeta. Her Majesty Depois de 14 segundos de silêncio eis que surge esta faixa escondida de apenas 23 segundos gravada por Paul e um violão. Coisas dos Beatles.

A Impressão


Quando escutei pela primeira vez este disco, ainda um adolescente, foi algo arrebatador e ainda continua assim. Até então eu não ligava muito para os garotos de Liverpool, mas ao ouvir Abbey Road meu conceito sobre o quarteto britânico mudou completamente. A genialidade, a musicalidade e a criatividade deste trabalho me fez ouvir mais desta banda e perceber a tremenda evolução numa carreira tão curta. Enfim, Abbey Road é um álbum muito a frente do seu tempo e que deixa claro porque Os Beatles são considerados, com toda a justiça musical, a maior banda de rock de todos os tempos. Só nos resta ouvir e admirar.


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sábado, 2 de setembro de 2017

O Exemplo de Daniel!

O texto bíblico que narra a história de Daniel na cova dos leões é uma projeção da vida de um seguidor de Cristo nesta terra. A propósito, os leões não estavam dormindo!
Se você é cristão, já conhece a história do profeta Daniel, que foi lançado na cova dos leões e sobreviveu ileso. Se você não é cristão, é provável que já tenha ouvido falar a respeito, pois trata-se de uma peça literária bastante difundida dentro e fora do cristianismo e do judaísmo. Mas uma das característica que sempre me impressionam nos textos sagrados é que, a cada re-leitura uma nova porta se abre para que mergulhemos mais profundamente na mensagem. É justamente o meu último mergulho que vou compartilhar com os leitores deste blog.

O Texto citado se encontra no antigo concerto, ou velho testamento, no livro do profeta Daniel. Não quero me ater a história literal mas naquilo que pode ser revelado através dela, transpondo o cenário para uma realidade maior atrelada aos nossos dias, dentro da era da Igreja de Cristo. Entendo, num rápido e pobre resumo, que a cova dos leões é uma representação do mundo em que vivemos, Daniel é uma imagem dos fiéis a Deus e os leões traduzem o mal que quer extirpar a fé deste planeta. Mas se ampliarmos o leque de informações contidas no enunciado, enxergaremos vários aspectos da vida neste plano e quero pontuar apenas alguns.

A primeira questão que me vem a mente é: Daniel sentiu medo? Creio que sim. Afinal ele estava em um lugar onde o cheiro da morte deveria ser insuportável, o ambiente desagradável e a presença das feras não contribuíam, em nada, para cultivar momentos de paz e tranquilidade. Não tenho dúvidas de que não foi fácil pois o próprio Jesus nos garante, no Evangelho escrito por João (capítulo 16 e verso 33), que este mundo é um lugar de aflições e insegurança para aqueles que optam pela fidelidade a Ele.

Em segundo lugar a pergunta é: Os leões queriam atacá-lo? Não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. Deveriam estar famintos e sedentos por carne fresca e por estarem impedidos de o fazer deveriam estar mais raivosos ainda. Afirmo isso, mais uma vez, com base em outro texto bíblico que está na primeira epístola de Pedro, no capítulo 5 e verso 8 que diz: "Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; ...". Ao contrário do que diz uma canção, os leões não viraram travesseiros. No texto fica claro que Deus apenas fechou a boca dos leões, mas não os colocou para dormir e certamente eles passaram todo o período esperando uma oportunidade para devorá-lo.

O texto é uma instrução para nós, que tentamos viver em concordância com o Evangelho. Estamos na cova, rodeados de leões famintos, prontos para nos devorar. Não cabe a nós tentar pará-los, pois não possuímos a força necessária para tal. Temos que seguir o exemplo de Daniel e apenas confiar que o nosso Deus irá tomar as providências necessárias para sobrevivermos e ao final sairmos da cova para a alegria do Rei.

A vida cristã não é um mar de rosas. Não estamos neste mundo para sermos queridos, para sermos estrelas, mas para sermos os protagonistas de um conto permeado de dificuldades mas, com um final feliz. Que o mesmo Deus de Daniel possa nos fortalecer para encaramos os leões que aparecerão em nossa caminhada. Deus abençoe a todos!

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Cristão Fraudulento. Existe Isso?

Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do Maligno. Mateus 5.37
O Canal Dois Dedos de Teologia, mantido pelo Yago Martins, publicou um vídeo intitulado: COMO OS CRISTÃOS ESTRAGAM E FRAUDAM O YOUTUBE. O Vídeo dá uma série de dicas a respeito de canais do youtube e alertas sobre práticas que visam apenas angariar views e likes sem se preocupar com o cerne da mensagem. Mas o mais grave é uma denúncia de vários canais que praticam fraude para conseguir isto, utilizando hashtags que não se enquadram no conteúdo, apenas para angariar views. No final deste post você pode conferir o vídeo citado, mas antes vamos conversar sobre um assunto muito sério que é a integridade do caráter cristão.

Quando abraçamos uma ideia, uma causa, uma filosofia de vida, uma ideologia, enfim; quando nos engajamos em algum tipo de grupo, a lógica é a de que iremos seguir as regras e comportamentos daquele grupo. No cristianismo não é diferente; quando optamos pela proposta da caminhada cristã, estamos assumindo um compromisso com as regras e práticas do Evangelho, pois é somente agindo conforme as instruções de Cristo que seremos, realmente, cristãos autênticos e reconhecidos como tal. Ser cristão, mais do que frequentar uma denominação religiosa, é servir de exemplo para que outros possam conhecer melhor o cristianismo. Ser cristão é ser uma testemunha, viva, do Jesus Cristo de Nazaré.

Entre as práticas comuns ao cristão as que se destacam, em relação a nossa condição de seres sociais, são: Moral, bons costumes, honestidade, compromisso com a verdade, ou seja, fazer a diferença num mundo tão carente de valores objetivos. Na verdade, os não cristãos esperam isto de nós. E quando não encontram, o que não é difícil, ficam espantados e cada vez mais descrentes nas nossas crenças. Esta crise moral que permeia o universo dos religiosos de vertente cristã tem arruinado as instituições, pessoas e o próprio Deus dos adeptos de Jesus. Não é o caso de Deus ter uma crise de identidade, mas a sua imagem é prejudicada porque refletimos de forma distorcida quem Ele realmente é. Com isso, deixamos de levar a cura e nos tornamos o câncer que contribui, ainda mais, com a degeneração da humanidade.

Precisamos acordar, lavar o rosto, voltar as Escrituras, rever nossos conceitos, redefinir nossos objetivos e entender que não estamos aqui para satisfazer nossos desejos pessoais ou alcançar fama e sucesso. Nossa missão é anunciar ao mundo a boa notícia de que existe uma forma melhor de viver e buscar o Reino de Deus para que ele seja manifesto já neste tempo presente. Para sermos chamados de cristãos devemos agir como tal. Que Deus tenha misericórdia de nós!

Segue, abaixo: o vídeo do Dois Dedos de Teologia, que motivou esta postagem:



Bate papo entre Eu e o Eduardo Teixeira do Cristo Suburbano sobre esta postagem...





domingo, 27 de agosto de 2017

O Evangelho de Cristo Incomoda Muita Gente

Depois de mais de vinte anos de conversão ao Evangelho de Jesus Cristo de Nazaré, a grande lição que fica e que me dá a certeza de que este é o caminho para a redenção do ser humano, não apenas no campo da espiritualidade mas também da humanidade. Esta certeza está ligada a uma constatação em contraponto com a maioria das religiões, que de uma certa forma, sempre contemplam a capacidade do ser humano de crescer, evoluir, atingir o pleno funcionamento de sua centelha divina, etc, etc, etc. Isto difere do Evangelho que expõe nossas fraquezas e escancara nossa dependência e incapacidade. Ora! Um pensamento religioso que não dá ao ser humano nenhum mérito, no meu parco entendimento, só pode ter vindo de Deus. Eu explico:

Nós, seres humanos, somos extremamente egoístas, soberbos e sempre nos achamos a última cereja do bolo. Mesmo quando tentamos ser humildes e altruístas, procuramos, de várias maneiras, encontrar algum mérito em nossas ações. Na nossa religiosidade isso não é diferente. Se formos olhar a maioria das correntes religiosas espalhadas pelo mundo, elas sempre contemplam nossas iniciativas, nosso esforço e o nosso sacrifício, ou seja, mesmo apontando para uma ou mais divindades, a maioria desses pensamentos converge para a capacidade do ser humano em realizar feitos grandiosos.

Quando olhamos para o Evangelho anunciado por Jesus de Nazaré, percebemos que não existe mérito, que não cabe a nós mudar nosso destino quanto ao nosso futuro na eternidade e que somos completamente dependentes da intervenção divina. Esta exposição explícita da nossa incapacidade aliada a uma certeza plena de que somos pecadores sem qualquer condição de alterar nossa natureza, não pode ter vindo de uma mente humana. Somente uma mente divina poderia nos apresentar uma realidade tão dura e cruel sem, no entanto, nos ferir. Pois é isso que o Evangelho promove em nós; desnuda nossa condição terrível mas faz isto de uma maneira que não nos agride pois, toma para si a dor que deveria permanecer em nós.

Num primeiro momento, a mensagem de Jesus nos assusta, pois funciona como um espelho que reflete o nosso verdadeiro caráter e isto nos aterroriza e incomoda pois nos dá uma certeza de que só poderemos prosseguir com Cristo se permitirmos que ELE  mate o nosso EU para que um NÓS venha a nascer. A maioria das pessoas corre no primeiro encontro, pois não suporta olhar para este espelho mágico que não nos chama de belos. E todos nós correríamos se não fosse a própria ação divina para nos manter ali, olhando e compreendendo a necessidade de morrermos.

Com o passar do tempo vamos observando o trabalho do Espírito em nós e começamos a contemplar as mudanças que Ele, pacientemente, vai promovendo em nosso ser. Gradativamente a beleza vai surgindo no meio da podridão de forma semelhante a que foi mostrada ao profeta Ezequiel. Não é uma operação rápida e muito menos prazerosa, mas o resultado é animador. Pois a cada dia podemos vislumbrar o tipo de ser que está sendo construído em nós para que, o Criador, ao final do trabalho, possa olhar e afirmar que ficou muito bom!

Que o bom Deus continue nos lapidando e transformando pois já não tenho nenhuma dúvida de que o Evangelho é real, é divino e é a única fonte de comunhão com Deus.

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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Underground Cristão #003 - Antidemon - Demonocídio

Há quem ame e há quem odeie, mas ninguém pode negar que esta banda revolucionou a cena underground cristã nacional.
A história da banda paulistana Antidemon se confunde com a própria história do pastor Carlos Batista. Nascido em berço evangélico, Batista sequer conhecia a cena metal e tudo que queria era ser missionário entre os índios, mas por uma intervenção divina começou a sonhar com uma música estranha e barulhenta que ele não conhecia. Num certo dia, ao passar em frente a Galeria do Rock ele ouviu um som que se parecia com o que ele vinha sonhando e descobriu a cena underground, a galera underground e seu chamado missionário.

Com muitas lutas e dificuldades, Carlos montou a banda que passou por diversas formações até chegar a atual que conta com o próprio Batista (baixo e vocal), Marcelo Alves (guitarra) e Juliana Batista (bateria). A banda, formada em janeiro de 1994, foi, pouco a pouco, ganhando espaço. Logo vieram as demo-tapes: Antidemon (1995), Confinamento Eterno (1997) e Antidemon 4 Anos (1998). Em 1999 finalmente foi lançado o primeiro álbum, intitulado Demonocídio, considerado até hoje, uma marco no metal cristão nacional e com distribuição por diversos países da Europa e América Latina. Várias canções deste disco foram incluídas em inúmeras coletâneas internacionais consagrando a banda no cenário underground.

Em 2009 a banda lançou Satanichaos pelo selo Rythm Rock e em 2012 lançam o álbum ApocalipseNow pelo selo australiano Rowe Records do lendário Steve Rowe da banda Mortification. O grupo ainda gravou um álbum no México, em 2002, intitulado Annilo de Fuego. Além dos quatro álbuns a banda participou de incontáveis coletâneas em todos os cantos do mundo adquirindo o status de grande nome do Death/Grind, não apenas entre os cristãos. Por tudo isso e muito mais, o Antidemon é um grupo que merece nosso respeito e apoio, sempre!

Demonocídio


Lançado em 1999, este álbum foi produzido de forma independente com material das demos anteriores e outras composições, totalizando 27 petardos sonoros de tirar o folego. O disco conta com Batista no baixo e voz, Elke na bateria e Kleber na guitarra. Com músicas como: Suicídio, Holocausto, Guerra ao Inferno e a polêmica e corajosa Apodrecida além de Massacre, faixa que se tornou um hino oficial da banda e é obrigatória em todas as apresentações, e que é executada por outras bandas. Uma coleção sonora bem recebida pelos fans e pela crítica e que quebrou barreiras dentro e fora da cena cristã underground.

Não vou comentar música a música, para não alongar muito esta postagem. Vou apenas listar as que eu mais curto e deixar para que você mesmo ouça e se delicie com este álbum tão emblemático. Destaque também para a arte da capa. Das músicas eu gosto de todas, pois cada uma tem sua qualidade especial e sua mensagem avassaladora, mas as que se enquadram mais no meu estilo eu destaco as faixas: Demonocídio, Usuário, Causas Alcoólicas, Massacre, Holocausto, Guerra ao Inferno, Cadáver, Drogas e Libertação II.

Ouça




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Aproveite também para ler a matéria sobre o Motification em: Underground Cristão #001 - Mortification - Primitive Rhythm Machine

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domingo, 13 de agosto de 2017

Toda dependência é problemática

Vivemos uma geração viciada em estimulantes que só estimulam o emburrecimento!
Recentemente o caso do vazamento de um áudio de uma cantora "gospel" dependente de drogas, vazou na internet causando muitos comentários em todos os sentidos. Em se tratando da cantora, creio que ajuda espiritual e psicológica podem ser bem mais úteis do que exposição e acusações. Também faço questão de acrescentar que: o fato da artista estar passando por um problema não a faz melhor e nem pior do que os outros e, falando como cristão, o seu talento continua  sendo uma dádiva divina. Mas não é sobre a celebridade que quero comentar e sim sobre esta dependência crônica que os cristãos contemporâneos desenvolveram nos últimos tempos. A dependência das estrelas.

Vivemos num país onde a cultura e a informação foram banidas da coletividade e a elite cultural não passa de um bando de doutrinadores em sua perene missão de banir, a todo custo, a moral e os bons costumes. Nas instituições religiosas, esta característica acaba se refletindo na membresia e o que temos são instituições rasas com líderes inaptos e uma desinformação crescente no que diz respeito ao cerne do Evangelho do Jesus Cristo de Nazaré. Esta absoluta falta de estofo teológico formou toda uma geração que desconhece as Sagradas Escrituras e, consequentemente, ignora o que é ser cristão, não conseguindo levar uma vida conforme os ensinamentos do Mestre.

Este vácuo intelectual e espiritual produziu uma geração oca que preenche o seu apetite religioso com qualquer coisa que possua esta espécie de "Selo de Qualidade Gospel". Isto é tão verdade que é comum escutarmos conversas de irmãos te convidando para o culto porque vai ter um pregador de fora e uma cantora ou cantor famoso. Neste cenário grotesco, a ação do espírito (com "e" minúsculo mesmo) fica condicionada as cantorias e pregações de fogo que quase nada diferem dos rituais pagãos, importados do norte europeu e do continente africano. Enquanto isso o Espírito Santo observa. A conclusão que chegamos é de que temos uma geração dependente das celebridades gospel, onde o culto só será bom quando uma delas estiver presente. Ao final do espetáculo ainda tem a venda de livros, CDs e DVDs com direito a autógrafos e sessão de fotos.

Entenda que não tenho nada contra a atividade artística feita por cristãos. Não é isso! Também não sou contra que tenhamos nossos artistas preferidos, pregadores que apreciamos mais, etc. O problema surge quando condicionamos nosso culto a Deus à presença destas estrelas religiosas e esquecemos do verdadeiro propósito da vida cristã e do culto ao Senhor. Este tipo de dependência produz uma comunidade doente que não tem apreço pela Palavra. Crentes incapazes de digerir uma alimentação substancial, imaturos e superficiais que pensam que ser abençoado é conseguir casa, carro e bens materiais diversos, que pensam que o melhor desta terra é comida farta e passeios a Disney. Que vivem um evangelho enganoso, fraco e medíocre. Crentes sem amor, que acham mais importante compartilhar a desgraça alheia do que interceder pelos fracos, que choram com os que riem e gargalham com os que choram, contrariando, em todos os aspectos, a Palavra de Deus.

Que Deus tenha misericórdia de todos nós!

domingo, 6 de agosto de 2017

O Leão Surdo


Certa vez, um aventureiro estava desbravando o continente africano e resolveu acampar. Pela manhã ao sair de sua barraca deparou-se com um enorme leão. Sem fazer alarde, foi tateando tentando encontrar sua arma mas a única coisa que encontrou foi o seu violino que costumava levar onde quer que fosse. Sem muitas alternativas, abriu cuidadosamente o case, sob o olhar atento do felino e começou a tocar o instrumento. Para sua surpresa, o enorme e selvagem animal pareceu ter gostado da música e deitou-se calmamente para ouvir o concerto. Outros leões foram surgindo e formaram um circulo ao redor no músico que prosseguiu com sua apresentação para esta platéia tão inusitada. Em certos momentos o cansaço quase o levava a parar de tocar, mas ao perceber que os animais começavam a rugir retomava a toada e tudo se normalizava. Com alguma sorte, em algumas horas, uma equipe deveria chegar para encontrá-lo e tudo seria resolvido. Após algum tempo, um outro leão, surgiu como que do nada e saltou por cima dos companheiros atirando-se sobre o talentoso musicista matando-o e garantido uma farta refeição. Os outros animais levantaram-se e foram saindo calmamente do local, quando um jovem felino disse, na linguagem dos leões, para o seu companheiro: - Que pena, estava tão bom, mas o surdinho tinha que estragar tudo!!!

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Infelizmente, em nossas rotinas diárias, muitas vezes nos deparamos com os leões surdos. São aquelas pessoas incapazes de apreciar o mundo que as rodeia, pois só conseguem ouvir a voz de seu ego. Esta incapacidade de ouvir os outros, ouvir os diferentes, ouvir os contrários, lhes torna solitárias e egoístas. Se sentem donas da verdade absoluta e tendem a destruir tudo o que não venha delas mesmas. Como diria Caetano Veloso, na belíssima "Sampa": Narciso acha feio o que não é espelho.

Precisamos entender que somos seres relacionais e que sempre temos o que aprender com os que estão em nosso entorno e com aqueles que passam por nós como um vento ligeiro. Lembro-me de um senhor que conheci em Ponta Grossa: o irmão Miguel. Um negro alto, magro, lindo e de cabelos brancos, com um linguajar típico da roça, lia com certa dificuldade mas falava com uma sabedoria impressionante. Uma saber adquirido com o tempo e com muita inspiração vinda de Deus.

Uma coisa que aprendi, principalmente quando ministrava aulas, é que as pessoas sempre tem algo a nos ensinar e que quanto mais aprendemos vamos descobrindo que sabemos menos do que imaginávamos.

A humildade é uma virtude, difícil de ser praticada, mas necessária para o nosso crescimento. Ela é fundamentada no respeito e no amor aos demais seres humanos. O nosso maior risco de uma queda fatal começa justamente quando nos achamos superiores aos outros. Este sentimento de superioridade leva as pessoas a desprezarem as lições que podem ser aprendidas e quando isto ocorre, os riscos de uma queda aumentam. Existe uma comparação, popular, muito simples, mas que ilustra muito bem a regra para nosso comportamento: Temos dois ouvidos, dois olhos e uma só boca, logo, devemos observar mais, ouvir mais e falar menos. Uma regra que a princípio parece até um pouco boba mas que carrega uma grande sabedoria.

Não estou escrevendo isso para esgotar o assunto, mas para compartilhar um pouco daquilo que tem me ajudado a ser mais compreensivo e consciente de que a soma sempre é melhor que a divisão.

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Este texto foi baseado na fábula: O Leão e a Flauta (Autor desconhecido)