terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Quando ouvir música era um ritual

Se você tem menos de trinta anos leia para saber como era e sem tem mais de trinta leia para lembrar como foi!

Quando eu era um adolescente, la no Rio de Janeiro, e não havia música em formato digital e a internet era inimaginável para nós, ouvir música era um ato quase religioso. Na nossa turma, tínhamos o hábito de sempre adquirir discos diferentes para permitir a troca entre amigos e com isso ter acesso a uma quantidade maior de obras. A escolha dos álbuns adquiridos tinha que ser rigorosa, pois além de caros, não podíamos nos dar ao luxo de comprar um disco com uma ou duas músicas boas e descartar o restante. Na loja de discos do bairro que eu morava, o Leme, havia a possibilidade de ouvir os LPs  antes de comprá-los. Estas restrições e dificuldades acabavam nos tornando seletivos e criteriosos. Em resumo: não tínhamos tempo e nem dinheiro para esbanjar com qualquer lixo.

Depois de adquirir a bolacha (apelido carinhoso para os long-plays de 12 polegadas) havia o momento mágico da audição. Retirar da capa, ler encartes, ver ilustrações, a flanelinha para eliminar impurezas, colocar no toca discos, deitar delicadamente a agulha sobre o vinil e deliciar-se com os acordes que vinham dos alto-falantes. Depois de escutar o lado A havia ainda a necessidade de virar o disco para ouvir o lado B.

Era um tempo em que a música exigia um tempo para ela. Por outro lado, o ouvinte exigia conteúdo das músicas. Não apenas qualidade musical mas uma mensagem que fosse de encontro as suas idéias e ideais. A música fazia parte de nossas vidas e nos ajudava na formação cultural e crítica. Nossos ouvidos estavam habituados com acordes complexos e os tempos quebrados do jazz e do progressivo, com a graça do chorinho, com a energia do hard rock e com a riqueza poética da MPB. Isso sem falar no engajamento político e nas preocupações sociais que as músicas discutiam de forma direta ou indireta.

Creio que o alto custo para se adquirir música e a dificuldade em conseguir obras mais raras tenha sido um fator de peso para que a música ocupasse um lugar de honra em nossas vidas.

Mas então o que aconteceu. Porque hoje, grande parte do público é menos seletiva e consome qualquer coisa independente do conteúdo ser refinado ou não? Eu acredito que um dos fatores que contribuiu para isso é justamente a facilidade que se tem hoje para consumir música. Atualmente qualquer Smartphone está recheado com milhares de músicas e o advento do Streaming nos dá acesso a milhões de canções que levam a dois extremos, a saber: Não dá para ouvir tudo e ouve-se o máximo possível e por conta disso a música passou a desempenhar um papel de mera trilha sonora para a corrida pela manhã, a academia, o trajeto para o trabalho, e para que ela não desvie a atenção do caminhante, do motorista ou do trabalhador ela precisa ser fácil de assimilar e de descartar. Resumindo, a música perdeu seu lugar de honra e passou a ser apenas um preenchimento sonoro nos silêncios da vida. Isto é tão verdade que quando você olha um aplicativo para música não é raro encontrarmos listas de faixas para tomar banho, lavar louça, andar de bicicleta, viajar, dormir, etc.

É claro que nem tudo está perdido e as facilidades tecnológicas também tem contribuído para aquele grupo de pessoas, embora pequeno, que tem interesse em boa música. Musica para sentar e ouvir. Comentei sobre isso em outra matéria neste blog (A Indústria da Música Está em Crise. Que Ótimo!!!). Admito que este tempo em que uma obra musical exercia fascínio, dificilmente retornará, mas gostaria que você prestasse mais atenção naquilo que ouve. Um abraço.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Jesus Não Veio Criar Uma Religião

Um dos erros clássicos que as pessoas cometem, inclusive os cristãos, é crer que o Evangelho é uma religião como outra qualquer. Este erro de julgamento produz dois grandes problemas. Primeiro: leva o não cristão a ter uma visão distorcida da Igreja de Cristo. Segundo: Faz com que os cristãos se tornem escravos da religiosidade. É exatamente sobre isso que vamos falar neste post.

Antes porém, precisamos entender o conceito de religião para compreender a razão de estarmos afirmando que Jesus não veio implementar uma religião. Religião vem do latim ¨religare¨, tem o significado de religação. Essa religação se refere a uma nova ligação entre o homem e o deus que ele crê. Baseados neste conceito entendemos que as religiões são de iniciativa humana o que difere da mensagem do Evangelho de Jesus Cristo, pois este é uma atitude que parte do próprio Deus e não dos homens. 

Ao examinarmos a narrativa bíblica a respeito da obra efetuada por Jesus Cristo e os seus pronunciamentos e ensinamentos podemos perceber com clareza a natureza da sua missão e as consequências da mesma no mundo. Jesus veio ao mundo para resgatar a comunhão de uma humanidade perdida com o seu criador, libertar o homem do cativeiro do pecado, através de um ato de redenção e estabelecer o seu Reino.

Nós vemos, pelas escrituras, referências ao Reino de Deus apontando duas realidades deste. Uma como algo futuro a ser alcançado (Mc 1.15 - Lc 10.9) e também como algo que já está disponível (Mt 12.28 - Mc 10.15 - Lc 12.31)

Com base nos versículos citado e muitos outros, podemos deduzir que o Reino de Deus já está acontecendo, está disponível, mas não na sua totalidade. Não é um reino físico, conforme vemos em Lc 17.20, 1 Co 4.20 e Rm 14.17. Ou seja: Jesus veio estabelecer um Reino que não é físico, está disponível somente para os que o reconhecem como Senhor e é constituído de atitudes que atestam quem faz e quem não faz parte de seu reinado. Ou seja, Jesus vaio estabelecer um modo de vida que reflete Seu reino em meio a este mundo conturbado e decaído.

Ser cidadão deste Reino implica em viver de acordo com as características do mesmo. Este é um ponto delicado pois muitas vezes (muitas mesmo) temos que andar na contramão do sistema que governa o mundo. A Bíblia nos dá algumas dicas: os cidadão do Reino são praticantes da justiça, promotores da paz e cheios de alegria. Não estão presos a riquezas e bens materiais e quando são abençoados materialmente o são para abençoar outras pessoas. Mas fica a pergunta: Será que, nós que nos autodenominamos seguidores de Cristo, estamos refletindo este Reino em nossas vidas?

Quando olhamos o panorama atual das denominações cristãs, observamos uma série de atitudes, dogmas, costumes que não condizem com o Reino de Deus e que mercantilizam o cristianismo esquecendo-se da ordenança dada pelo próprio Jesus que é amar a Deus e ao próximo. É lógico que isto não é unânime. Existem muitos cristãos autênticos e instituições cristãs preocupadas em espalhar as notícias do Reino, promover a justiça social, ajudando a nossa sociedade a encontrar a paz tão desejada mas que não é obtida em passeatas e impregnar o mundo com a alegria de ter encontrado um caminho reto, puro e perfeito.

Lembre-se: a Igreja de Cristo, que é santa, pura, perfeita e invisível, não possui um CNPJ. Pense nisso...

domingo, 15 de janeiro de 2017

Modos & Estilos #014 - Focus - Live At The Rainbow

Um certo dia estava na casa de um amigo e ele me mostrou e colocou para tocar o LP Live At The Rainbow da banda Focus. No dia seguinte eu já estava na loja de discos, do bairro, comprando um exemplar para minha coleção. Foi amor a primeira vista e é sobre esta banda e este álbum que iremos tratar nesta postagem.



O Focus é um grupo holandês de Rock Progressivo formado em 1969 pelo músico Thijs Van Leer (Teclado e Flauta). O Grupo lança seu primeiro álbum, intitulado In and Out of Focus, em janeiro de 1971, seguido do Moving Waves, ainda em 71 e Focus III no final de 72.

Em outubro de 73 lançam seu primeiro registro ao vivo, o lendário Focus at the Rainbow que iremos analisar nesta postagem. O álbum foi gravado no Rainbow Theatre em Londres em 5 de maio de 1973. Seu lançamento não estava previsto mas devido a divergências internas foi lançado no lugar de um álbum de estúdio que estava previsto para ser lançado mas foi adiado.



O disco trás a formação clássica com Thijs van Leer (teclado, flauta e vocais), Jan Akkerman (guitarra), Bert Ruiter (baixo) e Pierre van der Linden (bateria) e mostra toda a musicalidade da banda ao vivo, com espaço para performances mais arrojadas e improvisos.

Trata-se de um registro indispensável em qualquer discoteca de rock de respeito. Vale lembrar que a banda é, até hoje,considerada uma das maiores do gênero com uma musicalidade a frente do seu tempo, misturando elementos do rock, do jazz e da música erudita. Mas vamos ao disco.

As Músicas


1 - Focus III - O disco inicia com esta fantástica peça instrumental do álbum homônimo onde a guitarra de Akkerman é o ponto alto da faixa. Tema curto e lindo.

2 - Answers? Questions! Questions? Answers! - Sem intervalo, chegamos a este tema energético, que também faz parte do Focus 3, com seus vocais de fundo e um órgão maravilhoso e muitas mudanças de ritmo. Encanta qualquer um que aprecie boa música. A flauta de Thijd van Leer trás um clima que mistura o moderno e o erudito numa alquimia perfeita. Destaque para a o trabalho de van der Linden na bateria criando as mudanças de ritmo e o clima para esta composição intrigante e instigante. A integração do teclado e guitarra com o baixo e a bateria é espetacular. São quase 12 minutos de instrumental com vários elementos do Jazz. Uma obra prima!

3 - Focus II - Esta vem do álbum Moving Waves e apresenta uma linha de guitarra exuberante que passeia em cima de uma base simples e solida fornecida pelos demais instrumentistas.

4 - Eruption - Também do álbum Moving Waves, aqui ganha uma versão mais comedida com pouco mais de oito minutos contra os mais de 23 minutos da versão de estúdio. Trata-se de uma peça em vários movimentos com características bastante fortes da música erudita.

5 - Hocus Pocus - Esta talvez seja uma das músicas mais emblemáticas da banda e se transformou num hino que representa a identidade da trupe holandesa. A pegada quase hard, a bateria bem trabalhada, o riff insistente e o vocal ensandecido cantado a tirolesa. Um clássico. Se você não conhece a banda deveria pelo menos ouvir este som. Esta música também é do álbum Moving Waves.

6 - Sylvia - Tema rápido que faz parte do álbum Focus 3, musica alegre e divertida com uma linha de guitarra muito bem escrita, daquelas que cola. Um bálsamo para os ouvidos.

7 - Hocus Pocus (reprise) - Para encerrar, a banda retorna com seu carro chefe, a linha de baixo neste trecho é matadora. Hocus Pocus é uma espécie de Prog Punk bem antes do surgimento do punk. A mistura com vocais clássicos e o passeio pelo Tirol são mágicos e funcionam perfeitamente. Termina quase um hardcore oldschool.

Conclusão


Focus Live At The Rainbow é um LP indispensável para quem quer conhecer esta banda e nos incentiva a escutar os outros trabalhos do grupo e compreender porque, até hoje, o Focus é considerado um dos maiores e melhores grupos de rock progressivo da história. Uma referência no gênero e uma escola para muita gente boa. Vale a pena cada segundo.



quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Não diga que não pode....

Se você é cristão, assim como eu, então acredita que a Bíblia é a Palavra de Deus! Certo? Logo quando lemos em Eclesiastes 3 que "Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu:", você, assim como eu, cremos que isto é uma verdade. Neste caso, porque deixamos de realizar tantos projetos com a velha explicação de que não temos tempo?

Vivemos numa época em que temos a sensação de que nossos relógios estão acelerados. Os dias, os meses, os anos, parecem cada vez mais curtos. A correria diária atrás de dinheiro, as horas extras, serviços 24 horas, os volumes infindáveis de informações, que entulham nossas caixas de mensagens. Tudo nos toma o precioso tempo de que dispomos e, quando nos damos conta, estamos exaustos e tudo o que queremos é um bom banho e uma cama macia, não sem antes dar uma olhada no Face, no Whats, no Insta, no Snap, no Tweeter, e lá se foram algumas horas de sono que farão falta no dia seguinte.

Na verdade o que nos falta é saber administrar nossas ações aprendendo a priorizar aquilo que é essencial, para podermos dar conta das tantas idéias que passam pela nossa cabeça. Mas quais destas idéias são realmente importantes e úteis? Cada um de nós precisa aprendera a decidir o que é prioritário ou não. Para isso precisamos de um método que estabeleça parâmetros que nos ajudem a estabelecer quais projetos devem seguir em frente e quais devem ser descartados. Este método precisa ser pessoal e alicerçado no seu conjunto de valores. Não existe uma receita mágica, pois cada indivíduo é único e o que pode funcionar perfeitamente com um, pode ser um desastre com outro. Mas então, como fazer? Calma! Eu disse que não existe uma receita de bolo mas existe uma forma de determinar a sua dieta pessoal de prioridades. O primeiro passo, é definir quem é você!

Quem somos?


Bernardo Strozzi - Old Woman at the Mirror
Precisamos entender que: num mundo com sete bilhões de almas, cada uma delas é única formando um indivíduo com características exclusivamente suas. Conhecer este ser é fundamental para entender o seu propósito e desenhar as diretrizes que irão nortear suas ações no sentido de atingir os objetivos delineados para esta entidade. A maior batalha de um ser humano é contra si próprio, pois somos tentados a acreditar em nós mesmos e muitas vezes criamos conceitos totalmente irreais a nosso respeito. É preciso saber que o fato de que, cada um de nós é único, não nos faz melhores do que os demais seres humanos. Devemos aceitar que, mesmo possuindo características individuais também possuímos um conjunto de detalhes que são comuns a outros seres humanos, ou seja, somos indivíduos inseridos em um grupo de outros indivíduos formando uma coletividade. Sabendo disso, temos que estar cientes de que, cada ação nossa irá reverberar nos próximos criando uma sequencia que se expande até os confins da terra.

Baseados nisso, precisamos entender nossos valores, nossa moral e nossas crenças para confeccionarmos um perfil de quem somos. Pois somente sabendo quem somos é que poderemos saber o que queremos.

Talvez você esteja pensando: Este cara está teorizando mas não dá um exemplo prático. Então vamos lá:

Exemplo


Como disse no início da matéria, eu sou cristão. Esta característica é fundamental para que eu possa determinar quem eu sou mas não é a única. Resta saber que tipo de cristão eu sou. Então eu tenho que fazer um levantamento das características principais que me trouxeram até aqui: Num resumo rápido eu posso dizer que nasci num berço católico conservador, sempre gostei de literatura, cinema e música, gosto de compor, tocar, escrever e amo cheiro de madeira. Me converti a fé protestante numa igreja pentecostal mas meus estudos de teologia me levaram a vislumbrar e me apaixonar por uma linha de raciocínio mais bíblicamente reformada. Claro que isso não é tudo, existem muitos outros detalhes mas isto não é uma autobiografia. Baseado no que sou já posso descobrir o que eu quero. E o que eu quero?

Meu desejo é espalhar a mensagem de paz e esperança contida no Evangelho de Jesus Cristo utilizando as ferramentas que me caracterizam: literatura, música e vídeo e sobreviver daquilo que eu gosto (mexer com madeira e luthieria) e ajudar a criar uma sociedade (ainda que minúscula) que espalhe os valores morais que eu creio e amo, olhando para o outro (para o próximo) sempre. Ótimo, agora já sei o que quero e preciso estabelecer como conseguir isso.

É nesse ponto que devemos nos ater ao que é importante. No meu caso: manter um blog, um canal no youtube, compor, fazer a obra de Deus, trabalhar para o sustento da família e o tempo para a família são tarefas que precisam de esforço, organização e dedicação. Acordar mais cedo para cuidar do blog e do canal, reservar um dia na semana para sair com a família, ajudar nas tarefas domésticas, reservar um horário para compor e gravar, estudar a palavra e espalhar a boa nova. É tudo uma questão de planejamento e de eliminar coisas que não nos ajudam a atingir as metas estabelecidas. Determinar quanto tempo você vai dedicar as redes sociais é fundamental, pois apesar de serem uma forma de interação muito boa podem se tornar uma armadilha que irá roubar o nosso tempo para outras tarefas.

Conclusão


Olhando para todos estes aspectos começamos a entender que o versículo citado lá no inicio é verdadeiro. Existe tempo para fazermos tudo o que nos é proposto e proporciona o crescimento dos que nos rodeiam e de nós mesmos. É uma questão de Foco e Fé. Não é fácil, exige dedicação, coragem e muito esforço, muita determinação, mas é possível, pois Deus nos deu a inteligência para descobrirmos como fazer. Então vamos aproveitar que o ano está apenas começando e construir nossas metas e projetos para este ano. Só mais uma coisa. Devemos lembrar que não adianta estabelecer propósitos quase impossíveis. Vamos começar por aqueles que, apesar da dificuldade, são possíveis de serem alcançados, pois quando tentamos coisas inalcançáveis acabamos por nos frustar e desistimos até mesmo daquelas que seriam alcançadas. Vamos iniciar pelo simples, pelo óbvio. Não precisamos mudar o mundo. Só precisamos mudar a nós mesmos pois assim já estaremos contribuindo para mudar o mundo a nossa volta.

Boa sorte!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A Indústria da Música Está em Crise. Que Ótimo!!!

Desde que o formato MP3 (conheça a história) chegou ao consumidor final, em 1995, a indústria da música vem reclamando da "pirataria" e dos prejuízos que a prática de compartilhar música tem gerado, e para nos convencer invoca até os "santos" dos Direitos Autorais, etc, etc, etc. Muitos artistas do mainstream também se engajam nas campanhas para conscientização. Mas a pergunta que não quer calar é: Quem perde dinheiro com a distribuição digital? Resposta: A indústria! E eu te afirmo que isto é muito bom!

Antes que você promova um ataque, contra minha pessoa, apelando para as milhares de pessoas que trabalham na indústria da música e sustentam suas famílias, permita-me compartilhar partes de uma entrevista com Steve Albini (Não conhece? Deveria!) onde ele explica como funciona a indústria da música. Se desejar ler todo o keynote ai vai o link. Mas vamos em frente.

"A indústria musical era essencialmente a indústria dos discos, em que discos e rádios eram os caminhos através dos quais as pessoas conheciam música e principalmente, a experimentavam." Perceba que a indústria da música foi formada em cima de um bem de consumo (o disco) e utilizava uma estratégia de marketing (o rádio) para impulsionar o consumidor a adquirir o produto. "Gravar era uma empreitada rara e cara, então não era comum. Até a tua demo requeria um investimento considerável." Os custos de produção e distribuição eram extremamente altos e o poder tecnológico e financeiro para isso estavam nas mãos da indústria e, consequentemente dos industriais. "Rádios eram muito influentes. Era o único lugar para ouvir música de qualquer artista e as gravadoras pagavam bastante pra influenciá-los." É aqui que a porca torce o rabo. Tudo o que chegava ao consumidor era exatamente o que a indústria decidia que deveria chegar e isto implicava em muito jabá (pratica de pagar para que determinadas músicas fossem executadas nas rádios e posteriormente na TV).

Perceba que até aqui, tudo que foi mencionado é: indústria, rádios, TV, custos, consumidor, produto e por aí vai! Em nenhum momento mencionamos os termos músicos e ouvintes. Pois é, pois é, pois é: Neste processo produtivo e lucrativo o músico é o que menos ganha e o ouvinte é o que banca tudo mas nenhum dos dois é consultado no processo. Mas calma lá, mesmo antes da internet, uma galera começou a perceber que isto poderia ser diferente. Meu Deus! Quem foram estes gênios? Pasmem! Foram os punks. Estes mesmos, com seus cabelos espetados, roupas rasgadas que mostram o dedo do meio para tudo e todos, foram eles que decidiram mandar a indústria para aquele lugar e por em prática o famoso Faça Você Mesmo (DIY). Foram eles que ensinaram ao mundo que era possível gravar por conta própria e distribuir fora do sistema e informar de forma alternativa através dos fanzines.

Mas até aí a indústria não estava sendo incomodada e até se valia da cena underground para buscar novos possíveis produtos através de seus olheiros. Mas uma revolução estava prestes a começar. É a revolução digital. O grande barato da revolução é que: tudo o que era pesado e caro foi transformado em um conjunto de zeros e uns formando bits e bytes que levaram o alto custo lá embaixo e com a internet e as suas possibilidades de compartilhamento, a comunicação entre músico e ouvinte passou a ser direta eliminando todo o monumental intermediário que havia antes. "Num piscar de olhos, a música passou de rara, cara, disponível só em mídias físicas e ambientes controlados, para ser ubíqua e de graça. Que evolução incrível!" E é incrível mesmo, pois quem ganhou com isso foi o público e os artistas. É lógico que a indústria não curtiu a ideia e iniciou uma campanha para criminalizar a distribuição gratuita mas creio que este é um caminho sem volta. Mas espere aí! Nós estamos falando de um cenário norte americano e norte europeu. Mas e no Brasil?

Não é diferente! A diferença talvez seja quantitativa no que diz respeito a cultura de consumo em nossas terras tupiniquins. Uma grande parte da população brazuca ainda está habituada a consumir o que a grande mídia espalha através das rádios e TVs. O mainstream, por aqui, ainda é muito forte, talvez pela nossa herança de dizer sim aos coronéis. Mas nem tudo está perdido. Existe um universo underground e independente bastante ativo na nossa amada colônia. Não é um grande público mas é o suficiente para manter o movimento e graças a globalização da informação, hoje, temos artistas com seus trabalhos atingindo públicos fora do Brasil.

Por isso que eu repito. Que bom que a indústria da música está em crise. Quem sabe, a partir dessa crise, os músicos, os artistas possam viver da sua arte sem vender a sua honra, e o público possa desfrutar da arte e pagar, sim, pelo que quer e gosta e não pelo que lhe é imposto e cheio de impostos.

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Nota: O Keynote de Steve Albini foi traduzido por Janaína Azevedo Lopes.

sábado, 31 de dezembro de 2016

Retrospectiva 2016

Fala galera! Chegamos ao final de mais um ano e confesso que 2016 foi um ano muito louco onde aconteceu de tudo. 



Política


Tivemos o impeachment de uma presidente, prisões, corrupção, mais prisões, delações, gente sendo solta tentativas de impedir as investigações e chegamos ao último dia do ano com uma certeza: Politicamente o Brasil está podre. Não há muito o que fazer nesta área. Creio que a melhor solução é dar um reboot, trocar todo mundo. Nem esquerda, nem direita.

Esportes


Tivemos as olimpíadas. Muitos esperavam um fracasso mas tenho que reconhecer que foi uma bela festa e deu aquela pontinha de orgulho de ser brasileiro. Ainda no meio esportivo passamos pela tragédia da chapecoense. Mas a vida continua.

Cinema


As gratas surpresas ficaram por conta do ótimo Deadpool, Rogue One, Cap América 3 (Guerra Civil) e Dr. Estranho e as decepções foram Batman Vs Superman, Esquadrão Suicida e Alice Através do Espelho. Mas cinema é mesmo assim.

Música


Não escutei nada este ano, exceto o excelente EP da banda curitibana Legacy Of Kain.

Personalidades


A lista é grande e muita gente boa, deixou este mundo: Entre os principais, para mim estão: o camaleônico David Bowie, o hilário Shaolin,  o dono da voz Caubi Peixoto, o cinematográfico Hector Babenco, o cirúrgico Ivo Pitangui, o pequeno Kenny Baker (mais conhecido como R2-D2), o fantástico Gene Wilder (eterno Wonka), o músico Greg Lake e a eterna princesa Carrie Fisher.

Conclusão


Não foi um ano fácil. Muita insegurança, intolerância, violência, escândalos, desemprego, perdas e aponta para um 2017 não muito diferente. Mas temos que ser otimistas e seguir em frente afinal somos brasileiros e não desistimos tão facilmente assim.

Feliz 2017...

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Modos e Estilos #013 - AC/DC - High Voltage

Sinceramente falando, eu não me lembro qual foi o primeiro álbum do AC/DC que eu comprei, mas sei, muito bem, qual foi o que me impactou mais! High Voltage! E é sobre este disco que vamos conversar.



Existem dois álbuns da banda com este título: o primeiro é o disco de estréia e foi lançado em 17 de fevereiro de 1975, somente na Austrália. Não é deste disco que vamos falar mas da versão internacional lançado em 14 de maio de 1976 e que trás faixas do primeiro High Voltage e do T.N.T (ambos lançados apenas na Austrália). Trata-se de uma compilação que mostra toda a força da jovem banda e que imediatamente cai no gosto da garotada.

Participam do trabalho: Bon Scott (vocal), Angus Young (guitarra), Malcom Young (guitarra), Mark Evans (baixo) e Phill Rudd (bateria). Com esta formação é que são gravados os três primeiros discos com distribuição internacional: High Voltage, Dirty Deeds Done Dirt Cheap e Let Ther Be Rock.

Trata-se de um álbum bastanta energético, puro rock, com riffs colantes e levadas simples. As letras são na maioria adolescentes e falam de festas, fama, mulheres, bebidas e jogatina. Não existe nenhuma pretensão de ser profundo ou conscientizador. A ordem aqui é divirta-se o mais que puder. Não há exageros, os solos de guitarra estão na medida exata, baixo e bateria cadenciados e vocal típico das bandas de hard rock. Enfim, uma banda que sabe exatamente o que está fazendo.

Músicas:


01 - It's A Long Way To The Top (If You Wanna Rock 'n' Roll) - Batida constante, riff pegajoso, gaita escocesa, refrão puro anos 70 e guitarra solo no momento certo. A música fala da difícil caminhada para se tornar um astro do rock.
02 - Rock 'N' Roll Singer - O bacana do AC/DC é a simplicidade. Riff de quatro notas, solo visceral , batida constante e o refrão grudento. Também fala sobre o mundo do Rock'n Roll. Uma delícia para os ouvidos.
03 - The Jack - Blues arrastado daqueles que mexem os músculos e os nervos. A música fala de uma partida de Poker do inciante com a experiente. O duplo sentido faz bastante sentido na música. Um clássico presente em todos os shows da banda.
04 - Live Wire - O baixo marcado e constante, numa única nota entrecortado pela guitarra que apenas toca acordes simples. Bateria entrando aos poucos e a batida cadenciada vai ganhando corpo. Música de estrada. Deve ter sido escrita em alguma interminável estrada australiana. Show de bola.
05 - T.N.T - Esta é clássica e mostra que a banda era uma fabricante de hits, desde os primeiros passos. Resumindo simplesmente explosiva para detonar seus neurônios.
06 - Can I Sit Next To You Girl - Música de adolescente que perde a garota para outro cara. Puro rock´n roll. Muito boa mesmo. A guitarra é genial e da um clima de comédia o tempo todo. Cine Pipoca.
07 - Litle Lover - Mais um blues desta vez falando de garotas e sexo. A velha história da garota que o cara se apaixona e depois "some". Música de duplo sentido com uma pegada muito boa.
08 - She´s Got Balls - Rock de qualidade pra contar a história do garoto que conhece uma mulher bem mais experiente do que ele e fica todo bobo. Muito boa a música.
09 - High Voltage - Perfeita para encerrar este álbum e deixar aquele gosto de quero mais.

Conclusão


High Voltage é daqueles álbuns de estreia que te fisgam na primeira audição. Não é a toa que os caras estão na estrada até hoje mantendo os velhos fãs e conquistando novos. Audição obrigatória e faz parte da discoteca básica do rock.