sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

E você o que está fazendo sentado atrás desta mesa?

Na década de oitenta quando ouvi pela primeira vez a música Nada, da banda paulistana Olho Seco, nosso único objetivo era contestar mas sem fazer muito para mudar as coisas de fato. Passados 30 anos o mundo só piorou, a fome e as injustiças sociais continuam engolindo as pessoas com um apetite insaciável e a pergunta que eu faço é: "E o que nós estamos fazendo sentados atrás de nossas mesas?"


Ao estudarmos a história da igreja vemos que havia uma preocupação constante com os pobres e necessitados. Um dos pais da Igreja, Hermas de Roma, em um de seus escritos ressalta: "Se guardas estas coisas, este jejum será perfeito para ti. E assim farás. Tendo cumprido o que está escrito, no dia em que jejues não provarás senão pão e água; e contarás o custo do que terias gastado na comida aquele dia, e o darás a uma viúva ou a um órfão, ou a um que tenha necessidade, e assim porás em humildade tua alma, para que o que recebeu de tua humildade possa satisfazer sua própria alma, e possa orar por ti ao Senhor." Fiquei maravilhado com isso e ao mesmo tempo entristecido ao perceber o quanto estamos longe de um cristianismo que tenha o servir sempre em primeiro lugar. Pois de que adianta servimos a Deus se não servimos ao próximo?

Já somos cristãos razoáveis dentro de nossas igrejas institucionais; entoamos louvores, participamos da liturgia, ouvimos a palavra, ofertamos e procuramos viver uma vida digna. Tudo isso é bom e deve ser mantido e aprimorado mas o que precisamos ainda mais é sermos cristãos excelentes fora das igrejas. Começando em nossos lares, construindo uma base relacional familiar firme e agradável que possa prover para os da casa uma satisfação e disposição para o próximo. Feito isso já podemos partir para os nossos vizinhos. Quantos de nós sabemos ao menos os nomes dos nossos vizinhos? Quantas vezes ficamos sabendo de um morador próximo que perdeu um ente querido, um colega de trabalho que está doente, de um membro da igreja que perdeu o emprego e não fazemos nada. Nem um telefonema, uma visita para saber como a pessoa está ou se precisa de algo.

Não se trata de dar esmolas. As vezes é preciso dar a esmola, mas na maioria das vezes basta tratar com dignidade, com igualdade, com oportunidade. Não para aumentar a membresia desta ou daquela comunidade religiosa, mas para fazer o bem e trazer o Reino do Bem até estas pessoas. Somente sendo cidadãos relevantes a nossa sociedade praticando o amor, a caridade, o repartir do pão, a doação sem segundas intenções, preocupando-nos com o bem estar de todos independente de cor, raça, credo, orientação sexual, passado ou presente é que começaremos a deixar de sermos vistos como crentes inconvenientes. Dizemos que amamos a Deus mas não demostramos este amor amando o mundo (pessoas) que Ele amou a ponto de entregar seu único filho em sacrifício.

Precisamos agir. E agir rápido. Antes que tudo que reste de nós seja uma vaga lembrança de que um dia houve na terra, um povo que conhecia o caminho mas que era egoísta demais a ponto de dividi-lo com alguém. Que Deus nos livre desta sina.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Existe música boa atualmente?

Recentemente participei, a convite, de um episódio do podcast Maná com Manteiga, sobre música antiga (velha) e um dos tópicos abordados foi sobre a qualidade das músicas atuais. Confesso que é uma questão difícil de se chegar a um denominador comum.


Afirmar que a música atual é pior que as músicas antigas é muito perigoso e não reflete a verdade absoluta. Existe muita coisa boa sendo feita atualmente. O que fica patente, é que a música que chega ao grande público através do rádio, televisão e internet, em geral, é de fácil aceitação e produzida para ser rapidamente consumida e substituída, ou seja, a música pop não é necessariamente ruim mas é descartável e deve colar na mente do consumidor apenas pelo tempo necessário até a próxima música. Então na verdade nós temos três categorias de musicas a saber:
  • Música Ruim - É ruim mesmo e normalmente é imediatamente rejeitada pelo ouvinte, não passado da primeira audição.
  • Música Boa - Não é de fácil assimilação mas se perpetua na história ganhando uma aura de imortalidade.
  • Música de Consumo - De fácil aceitação e curta duração para dar lugar a novas músicas igualmente fáceis..
Não tenho dúvida de que esta última requer muito conhecimento técnico, musical e mercadológico e talvez seja a mais difícil de produzir. Imagine o trabalho de produzir uma música que caia rapidamente no gosto popular, grude por uns meses e rapidamente seja esquecida para dar lugar a outro sucesso. É difícil demais!

A questão é que o mercado precisa faturar e grandes produções, para serem eternizadas, numa era em que a venda de CDs é praticamente zero acabam não compensando. Do outro lado, a falta escancarada de cultura das gerações atuais facilita o consumo de porcarias tipo Fast-Food. Vivemos uma era em que as pessoas consomem quantidades enormes de informação mas não adquirem conteúdo.

Mas nem tudo está perdido. Com as facilidades e o barateamento da produção e distribuição de conteúdo ficou mais fácil encontrar nichos de bom gosto e direcionar a atividade cultural diretamente para este público específico.

Mas e a resposta para o título desta postagem? A resposta é essa: Sim, existe música boa atualmente, aliás, existe música, poesia, literatura, artes plásticas, filmes de excelente qualidade intelectual sendo produzida no nosso planeta. Mas não é para todos! É para aqueles que buscam por algo melhor, mais consistente, mais profundo, mais underground. Não pense que o establishment vai facilitar a sua vida. Não vai. Você terá que desejar, garimpar, encontrar e ajudar a divulgar para outros. E quer um conselho DIY? Se você não encontrar o que está procurando, faça você mesmo!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Finalmente um podcast

Descobri a podosfera em 2010 e logo me empolguei e comecei um podcast que só teve dois episódios, o Esconde Cast. Depois disso as correrias da vida me levaram a outras atividades. No ano passado (2014) voltei a escutar vários podcasts de conteúdo cristão realmente muito bons e muito bem produzidos. No final desta postagem você tem os endereços dos que eu mais escuto. 


Mas notei a falta de algo voltado a cena underground cristã. Esta lacuna me fez pensar em retomar o Esconde Cast. Mas fazer podcast sozinho não tem graça. Foi então que entrei em contato com meu brother Eduardo Teixeira, vocalista da No More Zombies e mentor do documentário Cristo Suburbano para convidá-lo a fazer parte do projeto, que prontamente aceitou o desafio. E nesta parceria entre o Esconderijo Underground e o Cristo Suburbano surgiu o Esconde Cast.


Trata-se de um podcast voltado a cena underground cristã com enfase na produção musical mas também abrangendo outras artes, movimentos sociais e cristianismo. A estréia do programa será no dia 13 de fevereiro de 2015 as 00:00h. Neste horário será divulgado o link para o episódio. Uma curiosidade: como já haviam dois episódios do Esconde Cast, a estréia será pelo episódio número três.

Neste episódio serão abordados os conceitos básicos de underground, um panorama da relação entre a igreja e o movimento underground, o testemunho do próprio Eduardo e algumas músicas. A periodicidade do podcast será sempre as sextas-feiras a cada 21 dias podendo ser lançados episódios extras entre um e outro.

A seguir você confere uma lista dos podcasts que eu mais curto, atualmente:

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

É ou não é de Deus?


Eu tenho uma lógica para raciocinar, quanto aos caminhos que devemos seguir, que é a seguinte: a partir do momento que reconhecemos a soberania de Deus, entendemos nossa condição de afastados de Deus pelo pecado e compreendemos que a única maneira de reatarmos a comunhão com Deus é através do sacrifício feito por Jesus. Este raciocínio nos diz para entregarmos nossa vida a Cristo. Uma vez que entregamos a nossa existência nas mãos do nosso criador sabemos que o Espírito Santo vem fazer morada em nós e passamos a ser guiados por Ele.

É evidente que a divindade não vai colar um post-it em sua geladeira dizendo o que você deve fazer. Mas eu creio que o Espírito Santo nos orienta em nossas decisões, sonhos e desejos de forma que nos tornemos verdadeiros servos que buscam agradar a Deus. Ora, posso então afirmar que Deus, através de Seu Espírito, influencia meus pensamento e me proporciona ideias, projetos e ideais em minha caminhada com Cristo. Mas como discernir se um projeto é realmente da parte de Deus ou apenas uma manifestação do meu eu em busca de prazeres e realizações pessoais que não tem foco no outro mas penas em mim mesmo? As respostas estão na oração e na meditação da Palavra de Deus.

Na oração que o próprio Jesus nos ensinou, que não é para ser repetida mas serve de modelo daquilo que é relevante quando oramos a Deus, existem dois trechos que considero de suma importância para este caso.

  1. Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu.
  2. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.
No primeiro caso entende-se que o cristão que está preocupado em fazer a vontade do Pai certamente o fará, pois o próprio Espírito o capacitará para tal. O Salvo em Cristo Jesus tem sua mente blindada para não ser influenciado por aquilo que não provem do Senhor. Paulo, em efésios, compara a Salvação a um capacete. Capacete serve para proteger a cabeça, neste caso a mente.

No segundo caso, Jesus nos orienta a pedir a Deus para que não venhamos a cair nas armadilhas e que nos livre do mal. Se verdadeiramente cremos nisso e desejamos estas coisas podemos ficar tranquilos pois o próprio Espirito nos ajudará a discernir o bem do mal e a tomarmos as decisões acertadas quanto aos nossos sonhos e projetos. Não se engane, só há um caminho a seguir e este caminho é Jesus. Devemos buscar em sua palavra as orientações para quando tivermos algum tipo de dúvida. Em resumo precisamos ter um relacionamento com Deus que se dá através da oração e da meditação nas Escrituras.
"Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas. Filipenses 4:8"

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O sonho acabou!

A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo. Tiago 1:27
Há algum tempo, numa instituição religiosa da nossa cidade, um irmão e grande amigo, iniciou um belo trabalho envolvendo crianças de uma comunidade do nosso município. Um trabalho de tirar o chapéu envolvendo esportes, lazer, socialização, formação de cidadania, reforço escolar e espiritualidade.

Para encurtar a história este trabalho não existe mais. As razões são simples: falta de apoio. A igreja da qual o idealizador é membro simplesmente ignorou o projeto direcionando ao mesmo, uma cesta básica ao mês. Eu não sei se fico indignado, revoltado ou triste com este tipo de situação. Conversei com alguns "irmãos" da tal denominação, sobre o caso e ouvi respostas do tipo: "Imagina, crianças que não são crentes jogando bola no pátio da igreja" ou "O que adianta este projeto se estas crianças não estão na igreja" ou ainda "são da favela, irmão, nem adianta nada". Minha vontade ao ouvir afirmações como estas é socar o individuo mas dai lembro que como cristão não da pra agir desta maneira. A minha pergunta é: onde está o Deus destas pessoas?


Que evangelho é este, que não se importa? Que igreja é esta que só faz algo se isso for agregar mais membros para a instituição. Eu aprendi, que Deus é amor! E se Deus é amor, quem tem Deus obrigatoriamente tem que amar. Se alguém diz ser cristão mas não consegue amar os outros, na verdade esta pessoa não tem a presença de Deus em sua vida. E se não possui Deus em sua vida é uma daquelas que Jesus dirá: "Não vos conheço".

É triste ver como certas igrejas estão tão distantes do evangelho. Mas também não posso olhar apenas para os que não fizeram nada. Preciso perguntar o que eu fiz para que este projeto seguisse em frente? Fiz o que qualquer hipócrita faria. Lamentei mas não agi, não fiz nada. Isso talvez doa muito mais. Esta certeza de que estamos tão contaminados que estamos nos tornando religiosos sem religião.


Mas pelo menos vejo algo de positivo nesta história triste. Que ela sirva para que acordemos e mudemos nossas atitudes compreendendo o que é ser verdadeiramente um cristão. Não temos quer grandes, temos que ser grandiosos em feitos para a glória de Deus. É preciso romper com este estado de coisas em que a instituição, que se auto-denomina igreja, está se transformando. Estamos apáticos. Pessoas estão morrendo e nós estamos satisfeitos com nossos cultos sem conversão de almas, nossos congressos lotados religiosos. Felizes com nosso carro novo, mas  não damos carona para o nosso vizinho. Contentes com nossas casas financiadas pela Caixa mas não damos abrigo ao necessitado. Vivendo um falso cristianismo e quem sabe caminhando a passos largos para um inferno que nem foi feito para nós. Queremos ser Reis mas não almejamos o Reino. Somos todos hipócritas. Que Deus tenha misericórdia de nós.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O que é underground #01 - definindo a coisa


A palavra underground, traduzida diretamente do inglês para o português significa subterrâneo. Mas ao analisarmos o termo mais detalhadamente conseguimos extrair muitas informações que acabam dando uma conotação diferente e mais nobre ao vocábulo.

Basicamente, underground é formada por duas palavras: Under e Ground. A palavra under aparece como preposição no sentido de estar embaixo ou sob algo. Também ocorre como adverbio no sentido de sujeição e como adjetivo podendo significar subordinado ou submerso. Já o termo ground pode ser entendido como solo, chão, terra e ainda como fundamento pretexto e motivo além de verbos como fundamentar e basear.

Quando olhamos estas variantes podemos nos dar ao luxo de dar um significado mais abrangente e mais livre ao termo. Eu, particularmente, entendo o underground como algo que vai além da superfície, que não é superficial, que vai mais fundo, que busca um conteúdo mais rico e uma informação mais fundamentada. Baseando-se neste princípio podemos compreender que, ser underground, é não se conformar com as imposições do mainstream  e buscar uma identidade própria que seja relevante ao meio em que vivemos.

O Underground e o Cristianismo

Fazemos parte de uma sociedade dominada por um humanismo pós-moderno e relativista baseado em conceitos antropocêntricos onde o indivíduo é  o centro de todas as coisas esquecendo-se da coletividade e isto acaba atingindo todas as ramificações da sociedade incluindo a igreja institucional.

É neste contexto e nesta visão que surge a necessidade de um cristianismo mais cristão, ou seja, um cristianismo underground, que não esteja dominado pelo establishment gospel que tem descaracterizado a igreja. Queira ou não, a igreja de Jesus é uma organização que anda na contra-mão do sistema, é uma instituição subversiva pois prega valores que são abominados pelo sistema que controla as massas. A igreja verdadeira é perseguida mas é transformadora. Sua força não está em cargos políticos, em alianças vantajosas, em poder financeiro. Sua força está no invisível, no imponderável, no incompreensível. Bem diferente desta farsa midiática que se manifesta pelas emissoras de rádio e televisão.

A igreja de Cristo não segue as ultimas tendências da moda. Ela tem estilo e opinião. A igreja de Cristo só é igreja quando ela é underground.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Je suis juste un chrétien d'Amérique latine.

Aproximo-me suavemente do momento em que os filósofos e os imbecis têm o mesmo destino. (Votaire)
Meus pais sempre me diziam: "Quem brinca com fogo acaba se queimando". Já se passaram 16 dias do ataque terrorista à sede da revista Charlie Hebdo que tirou a vida de 12 pessoas. Nestes 16 dias, apenas no Brasil, 2400 (duas mil e quatrocentas) pessoas foram assassinadas, foram praticados aproximadamente 2700 abortos e por aí vai. Não estou dizendo que as 12 mortes na frança são menos importantes mas o que me intriga é a facilidade com que as pessoas aderem as manifestações fomentadas pela mídia. 


A maioria das pessoas, fora da França, que tem tomado partido, em favor de uma publicidade para a publicação sequer a conhece e não tem ideia do tipo de conteúdo publicado no tabloide. O semanário é bastante conhecidas por suas críticas ao governo e a sistemas religiosos que constantemente satiriza, muitas vezes com uma agressividade editorial que mostra um total desprezo pelos diferentes. É vidente que isto não justifica o assassinato promovido por extremistas, que aliás são tão cidadãos franceses quanto os franceses mortos na chacina.

Eu me pergunto. Será que os responsáveis pelo periódico não tinham consciência dos efeitos que a sua liberdade de expressão poderia causar? Até onde vai a liberdade? Em que ponto uma piada se torna um insulto? Como funciona a cabeça de um muçulmano? Vivemos em uma grande sociedade global com pessoas diferentes adeptas de diferentes discursos, idéias e ideais que diferem e divergem entre si. Eu tenho o direito de dizer o que quiser no meu blog mas também tenho que ter a consciência de que se disser algo que ofenda alguém posso ser responsabilizado por isso.

Mas e o estado islâmico, qual a atitude que irá tomar? Não basta dizer que a sua religiosidade não prega a violência e que estes atos são isolados. É preciso tomar uma atitude, não apenas pelos 12 mortos na França, mas pelos 106 na Nigéria, pelas centenas de cristãos católicos e protestantes mortos pelo extremismo, pelas meninas vendidas como escravas. Onde está a mídia nestes outros casos? Onde estão as manifestações? E nós, que batemos no peito para nos afirmar cristãos e defensores da justiça e do amor. Vamos dobrar nossos joelhos por 30 segundos em uma oração rápida ou vamos mostrar ao mundo que somos luz e sal?

Toda a forma de violência deve ser combatida: física, moral, intelectual, social, não importa! Violência é violência e pronto! Mas nós não temos tempo para isso, precisamos ir ao culto, precisamos tocar nossos louvores intermináveis, precisamos fazer atos proféticos, cobrar os dízimos e ofertas, precisamos construir templos e com isso não nos sobra tempo para sermos o templo.

Tem horas que me sinto envergonhado de me dizer cristão!