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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A Arte de Odiar a Arte

Eles patrocinam o que não é para que você odeie o que realmente é!
Arte é, na sua etimologia, a técnica empregada para realizar alguma coisa. Com o tempo ascendeu ao status de designar um tipo de técnica relacionada à produção de objetos com beleza estética, ou aquilo que é esteticamente agradável aos sentidos humanos. A arte também é uma manifestação filosófica da estética perfeita que apresenta, de forma cognitiva, uma visão do autor daquilo que é agradável e belo. Esta manifestação é individual. A arte parte do indivíduo que através do seu talento natural e das técnicas absorvidas demonstra de forma magistral a sua visão pessoal das coisas, do mundo e do ideal de beleza e existência. Quando ouvimos uma peça de Bach, Chopim e muitos compositores clássicos, estamos ouvindo a expressão do ego destes indivíduos que demostram para nós a sua visão individual do que é um ideal de música. O mesmo acontece com a pintura, a escultura, e outras formas de arte.

Esta produção artística que parte do indivíduo acaba por formar em cada ser, gradativamente, uma consciência ética e estética, que liberta a mente e a alma. Quando temos a consciência do belo, caminhamos para a transcendência do indivíduo em direção ao perfeito e eterno. A arte serve então de ponte para um estágio superior da consciência que se torna livre e percebe a existência de um modelo absoluto. Ao se deparar com o absoluto, cada indivíduo deixa de se submeter ao que é relativo e isto não interessa para quem detêm o poder ou está no comando ou ainda, que deseja o poder.

Foi exatamente isto que a intelligentsia percebeu. A arte pura minava seus anseios coletivistas de domínio. Mas como impedir que os indivíduos consumissem esta arte que os levaria a romper a submissão. Proibir seria um tiro nos pés, pois todos sabemos que proibições geram interesses e procura. A técnica adotada, e devo reconhecer que é brilhante, foi fazer as pessoas perderem o interesse pela arte. Como? Patrocinando e exaltando o que não é arte. Paulatinamente o establishment estatal foi elevando a categoria de grandes artistas uma safra de produtores de lixo. Isto levou as pessoas a ter uma visão distorcida da arte e com o tempo uma aversão a esta. E hoje chegamos a um estágio onde aqueles que produzem a verdadeira arte do belo, do esteticamente perfeito e do crescimento libertador estão relegados aos subterrâneos. 

Só que, todo sistema possui uma falha...  Mas isto é uma outra história...

Para elucidar melhor este assunto, deixo aqui o vídeo que me levou a escrevê-lo.


terça-feira, 12 de setembro de 2017

O Caso Santander e a Eminente Queda da Civilização

Será que estamos assistindo os últimos instantes da humanidade? E creio que sim, e você?
Há poucos dias, assistimos a um episódio que mexeu com os brasileiros, em todos os aspectos. Foi a exposição Queermuseu organizada pelo espaço Santander Cultural que fica no centro histórico de Porto Alegre, RS. Não vou entrar aqui nos méritos e desméritos da exposição, pois isso já foi amplamente discutido. Com relação ao material exposto existe lei para isso, basta aplicar. Então vamos lá.

O artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente classifica como crime a divulgação de material que contenha imagens de crianças em situações de contexto sexual, também diz que é crime expor crianças a imagens de sexo explícito (haviam crianças visitando a mostra acompanhada de professores) e por aí vai. Tais crimes são passiveis de detenção estipulada no referido artigo.

Já o artigo 208 do código penal afirma ser crime vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso. Perceba que os dois crimes foram praticados no local da exposição e isso por si só já bastaria para o cancelamento da mesma e prisão dos organizadores. Não é uma questão de intolerância, homofobia, ultra conservadorismo, etc. É uma questão de Lei.

Mas vamos em frente. A ensaísta, crítica de arte e crítica social americana, professora da University of the Arts em Philadelphia, Pennsylvania, desde 1984, acadêmica e Ph.D pela Universidade de Yale, Camille Anna Paglia que também é feminista, homossexual e ateia, baseada em estudos sérios afirma que esta explosão transgênero é uma característica histórica que precede o fim de grandes civilizações e após este fim, homens voltam a ser homens, mulheres voltam a ser mulheres para que uma nova civilização possa surgir. No final da postagem há um vídeo onde ela mesma afirma isso.

Um dos argumentos dos defensores dessas mudanças todas é que na antiguidade era comum as praticas que agora são consideradas abusivas. Então, a humanidade evoluiu e foi percebendo que estes atos eram cruéis, principalmente em se tratando de crianças, que no consenso são indefesas. Mas agora parece que temos um retrocesso destes valores que ergueram a civilização ocidental. Ora, se os valores que levantaram uma civilização são colocados de lado o caminho natural desta mesma civilização é cair.

Esta exposição que causou tanto espanto, na verdade é um pálido reflexo de algo muito maior que permeia a sociedade contemporânea, que é a falência dos valores éticos e morais que vem corroendo a existência humana. Não fosse pelo fato dela ser financiada com o meu e o seu dinheiro, ela passaria despercebida. O grande, e maior problema é justamente o fato de financiarmos aquilo que não aprovamos sem ao menos sermos consultados. Este sim é um problema bem mais sério. Faça o que você quiser com seu dinheiro, mas não me obrigue a fazer o que eu não quero, com o meu.

Sou contra financialmente público para o que quer que seja, inclusive para o que eu aprovo, pois não quero carregar a culpa de ter gasto o dinheiro de outras pessoas, contra a vontade deles, em algo que eu quero fazer. Afinal, foi para isto que foi inventado o financiamento coletivo.

A opinião de Camile



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sexta-feira, 28 de julho de 2017

Não sou pessimista, sou realista...

O Brasil caminha a passos largos em direção a uma falência ampla, total e irrestrita da máquina estatal, mas calma, isso talvez não seja tão ruim.
A crise do Estado Brasileiro não é recente, na verdade ela se inicia com a implementação da república, ainda de forma tímida, e vai se intensificando aos poucos com o passar dos anos, mas é depois do governo militar que ela ganha corpo para aportar neste caos que estamos vivendo. O movimento final se inicia em 1995 com Fernando Henrique, se consolida em 2003 com o Lula, descamba geral a partir de 2011 com a Dilma e agora agoniza com o Temer levando o país a mergulhar, neste últimos 22 anos, em um oceano de lama e esgoto. Não tenho dados concretos, mas creio que roubou-se a nação, nestes últimos vinte anos, mais do que em toda a história desde o "descobrimento". Não existem inocentes: PSDB, PT, PMDB e seus satélites transformaram o que restava de alguma ética e moral em um rolo compressor de corrupção e criminalidade que estão matando o Brasil e os brasileiros, numa escala onde não existe a menor possibilidade de reversão.

O Fato é que: o país está caminhando para uma falência do Estado nos próximos anos. Pode acontecer já em 2018 ou daqui uns dez anos, mas vai acontecer. Em alguns estados já está acontecendo e em outros os efeitos ainda não são tão perceptíveis. Mas os sinais estão aí: Educação doutrinadora e de péssima qualidade que tem preparado apenas militantes e não pensadores, sistema de saúde em frangalhos, segurança inexistente, criminalidade crescente, desemprego, desunião, falta de brasilidade e civismo, decadência moral, etc, etc, etc. Mas voltemos ao estado: A máquina estatal engordou e hoje alimenta um batalhão de sanguessugas que irão beber até a última gota antes que o monstro caia morto e depois de morto ainda tentarão ver o que dá para aproveitar para saciar sua fome insaciável. Para tentar prolongar a vida do moribundo cortes começarão a ser efetuados em todos os lados, menos, é claro, aonde deveriam acontecer.

Serviços, hoje fundamentais, deixarão de ser prestados, financiamentos serão cortados, calotes serão dados e mais impostos serão criados. Não haverá revolução pois já previam isto e desarmaram a população, não haverá intervenção militar pois as forças armadas estão sucateadas e desmotivadas, não haverá um salvador da pátria pois o país já está ingovernável. Talvez, diante deste quadro tão terrível, o leitor pense que não pode haver nada de bom nisto tudo, mas eu te afirmo que existe. 

Diante deste cenário horripilante podemos prever uma desestatização da Nação, ou seja: serviços que, hoje são prestados de forma precária pela União tendem a ser transferidos para a iniciativa privada. Por exemplo: na área da Educação já existe uma tendência de migrar para um sistema comunitário e também para o chamado Homeschool (educação em casa). Com o advento da internet e suas tecnologias podemos levar conhecimento e formação a distância. No campo da saúde podemos migrar para as clinicas populares onde o custo por atendimento individual é acessível e o empreendedor lucra pela demanda. Também é viável investir em segurança privada, geração de eletricidade por vias limpas e alternativas, transporte público por aplicativos, transferência de capital por meios eletrônicos, fora da rede bancária, que geram rapidez e menos encargos e muitas outras atividades que não caberiam neste artigo.

Não sabemos se temos dois anos ou dez, mas já entendemos que é possível criar um Brasil Paralelo, que funcione, em meio ao caos do Brasil oficial. É perfeitamente possível, mas para dar os resultados esperados temos um trabalho gigantesco pela frente que é a transformação ética e moral da mente do brasileiro. Eu não tenho dúvida de que estes existem muitos cidadão dispostos a isso e cabe a nós darmos os primeiros passos começando a mudança pela parte mais difícil que é mudar a nós mesmos. Mudar nossos hábitos corrompidos, nossos ânimos abalados e incendiar nossa força e nossa garra. Se conseguirmos dar este primeiro passo o resto é fácil.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Lo-Fi - Quando o conteúdo é mais importante que a embalagem

Na esteira do DIY o movimento LO-FI vem como uma alternativa a idiotização da arte.
Não faz muito tempo que eu descobri o movimento Lo-Fi (pronuncia-se lou-fai) e imediatamente me apaixonei, não pela novidade, mas pelo fato de descobrir que eu já era do movimento antes de conhecê-lo. Tecnicamente, Lo-Fi é o antônimo de Hi-Fi, termo utilizado na indústria do áudio para designar equipamentos que reproduzem as ondas sonoras com alta fidelidade ao som original. Logo, Lo-fi pode ser compreendido como, baixa-fidelidade. Na produção musical, ainda tecnicamente falando, o termo serve para designar as peças musicais registradas com equipamentos simples e de baixo custo, que, teoricamente, não conseguem atingir o nível de fidelidade dos grandes, modernos e dispendiosos estúdios profissionais. Resumindo: a produção musical Lo-Fi era, na prática, um recurso de quem não tinha o aporte financeiro para custear uma grande produção. Isto era e continua sendo verdade em boa parte da criação musical alternativa e independente mas existe um outro lado desta moeda que precisamos compreender.

Não é nenhuma novidade que existe uma indústria que produz e lucra muito com a música de massa, esta que toca nas rádios, nas novelas e nos programas de auditório, destinada ao consumo rápido e facilmente descartável para ser imediatamente substituída por novas peças mantendo um ciclo interminável onde os ouvintes pensam que ouvem o que gostam, quando, na verdade, escutam o que este empreendimento comercial decide que devem consumir. Neste cenário, meramente empresarial, não existe espaço para a arte, seja esta tradicional ou de vanguarda. É óbvio que existem raras exceções, mas são apenas exceções que confirmam a regra maior. O que fazer então? Partir para a produção independente.

Neste cenário alternativo ou underground existem dois segmentos: Os que querem chegar ao mainstream e os que preferem continuar no underground. Quanto ao primeiro grupo, os poucos que obtêm sucesso, na maioria, ou se corrompem ou se frustram e voltam ao subterrâneo. Mas é do segundo grupo que estamos falando. Neste segundo grupo, que quer permanecer independente também existe uma subdivisão. De um lado os que não abrem mão da técnica e da tecnologia de ponta e só produzem e lançam algum material quando este atende uma série de requisitos técnicos que eu costumo chamar de Geração ProTools e do outro aqueles que se dão conta que o mais importante é levar a mensagem. Neste sentido o termo Lo-Fi cai como uma luva nesta turma que grava como pode, onde pode e quando pode.

Num tempo em que as agências de publicidade ditam as regras do que está na moda ou não, ser Lo-Fi vai além do recurso técnico, rompendo a barreira do establishment reinante e abraçando o legado do Faça Você Mesmo (DIY). Lo-Fi não está mais restrito a música, mas torna-se um sinônimo de liberdade criativa que atinge a arte em sua totalidade, deixando de ser um recurso para tornar-se um movimento. Mais que isso; ser Lo-Fi não prende você a uma estética comportamental ou de estilo como fazia o movimento punk, por exemplo. Trata-se de uma consciência que se aplica a todos os estilos e tribos. Abrangente, inclusivo e belo. Quase divino, se me permitem a ousadia. Então, ta esperando o que, para sair da caixa? 

quarta-feira, 17 de maio de 2017

O Underground Cristão Vai Bem, Obrigado!

Enquanto no Mainstream cristão nacional quase não se aproveita nada a cena underground despeja toneladas de bandas para todos os gostos
Quando eu e Eduardo Teixeira, do Cristo Suburbano, fazíamos o Podcast do Esconderijo, em um determinado episódio ele me perguntou a diferença entre mainstream e underground e eu respondi que o mainstream é produto e underground é arte. Minha opinião sobre o assunto continua exatamente a mesma. E dentro do universo da música cristã é exatamente a mesma coisa. Isto acontece porque existe uma indústria musical que como todo e qualquer negócio, visa lucro. Esta busca pela viabilização e comercialização do produto acaba, muitas vezes, levando os profissionais do ramo a criação de produtos que possam ser facilmente aceitos, consumidos e descartados para que a próxima fornada não se perca. Neste processo, normalmente, a qualidade artística, poética e teológica fica em segundo plano. Enquanto isso, na cena underground, a certeza do baixo retorno financeiro acaba proporcionando aos criadores mais liberdade artística, mais comprometimento com a qualidade e uma maior preocupação com o conteúdo das mensagens.

Evidente que em ambos os lados existem exceções. Do lado mainstream, temos bons artistas produzindo boa música de excelente qualidade técnica e poética e com conteúdo teológico relevante, como é o caso da banda Resgate, assim como no meio underground também existe coisa que não se aproveita, mas no geral a regra permanece. E quando eu me refiro ao underground não estou me referindo apenas a galera do rock. Eu me refiro a todos os que estão produzindo arte, mas que correm por fora da grande mídia. Hoje é possível garimpar música cristã em todos os estilos que você possa imaginar e tem coisas realmente sensacionais.

Este artigo não tem por objetivo enumerar artistas mas servir de incentivo para que você comece a procurar conteúdo fora dos umbrais da mídia tradicional. Não vou apontar artistas específicos pois estaria apenas indicando aquilo que eu curto e que pode ser diferente do que você está buscando.

Onde Procurar

Uma boa pedida para quem curte um som mais voltado para o punk hardcore são os canais do Cristo Suburbano, mantidos pelo Eduardo Teixeira, da manda No More Zombies, vou dar o endereço do blog e de lá você encontra os outros canais. Tem também o Metal Cross onde você pode assistir clipes de várias bandas cristãs que fazem um som da hora. Tem o canal da Gabi Rox onde existem várias dicas de bandas nacionais e internacionais do underground cristão. Outra cena bastante forte é a do RAP cristão. Vou indicar dois; o blog Hip-Hop Gospel e o site Portal Rap onde você vai encontrar bastante informação sobre o assunto. Estes são alguns canais mas existe muito mais. E se você conhece algum bem legal, coloque o link ai nos comentários para gente divulgar. Grande abraço.

Links:

terça-feira, 2 de maio de 2017

Modos & Estilos #018 - Secos & Molhados - Secos & Molhados II

Um álbum a frente de seu tempo e que ainda soa surpreendente!
A banda Secos & Molhados criada, em 1970, pelo cantor e compositor português, radicado no Brasil, João Ricardo, teve muitas formações. Mas nos anos de 1973 e 1974 o grupo teve a formação considerada clássica composta pelo próprio João Ricardo (vocais, violão e harmônica), Gérson Conrad (vocais e violão) e Ney Matogrosso (vocais).  Com este time gravaram os dois primeiros álbuns da banda que são verdadeiras obras primas da música brasileira: Secos & Molhados I (1973) e Secos & Molhados II (1974).

O impacto causado pela banda foi arrebatador. Numa época difícil para o país, os Secos & Molhados ousaram em tudo. Na musicalidade inovadora, nas letras, no visual extravagante, na mistura de sons e ritmos com elementos do rock, jazz, progressivo, folclore português, MPB e muito mais. Apesar do tempo, o trabalho realizado a esta época,continua atual e ainda surpreende os ouvidos mais atentos.

Mesmo não tendo obtido o mesmo sucesso e volume de vendas do primeiro disco, Secos & Molhados II é, na minha opinião, não apenas o melhor trabalho do grupo, mas um dos melhores álbuns produzidos no Brasil e pode facilmente figurar entre as grandes coleções da música mundial. Mas nem tudo são flores, o álbum originalmente foi prensado em vinil não virgem o que prejudica um pouco a qualidade sonora e merece uma remasterização. No entanto este detalhe não o deixa menor e menos importante. A capa simples, minimalista e intrigante já dá uma mostra do seu conteúdo.

Menos rock que seu antecessor, as músicas do disco passeiam por vários estilos e criam um clima de delírio e introspecção com arranjos muito bem construídos e uma performance vocal primorosa de Ney Matogrosso. Nas letras temos um desfile de autores como:  Julio Cortázar, João Apolinário, Fernando Pessoa e Oswald de Andrade além do próprio João Ricardo, Paulinho Mendonça e uma parceria com a cantora, compositora e multi-instrumentista brasileira, Luhli, na faixa Toada & Rock & Mambo & Tango & Etc.

Além do Trio, participam deste álbum os músicos: Norival D'Angelo (bateria, timbales e percussão), Sérgio Rosadas (flauta transversal e flauta de bambu), John Flavin (guitarra elétrica e violão de 12 cordas), Willi Verdaguer (contrabaixo elétrico), Emilio Carrera (piano, órgão e acordeão), Triana Romero (castanholas) e Jorge Omar (violões e viola). Destaque para o baixista Willi que dá um show de técnica e musicalidade. Mas vamos às músicas:

01 - Tercer Mundo (João Ricardo/Julio Cortázar) - Música no estilo flamenco, com castanhola e tudo. Num clima bem revolucionárioe um belíssomo de trabalho de violões.
02 - Flores Astrais (João Ricardo/João Apolinário) - Foi o hit deste álbum, tocado e retocado em tudo que é lugar. Clima psicodélioco, meio prog, meio pop. Excelente.
03 - Não: Não Digas Nada (João Ricardo/Fernando Pessoa) - Mais uma acústica. Num belíssimo arranjo sobre um poema de Fernando Pessoa. 
04 - Medo Mulato (João Ricardo/Paulinho Mendonça) - Num clima de suspense  a letra fala dos medos que rondam as mentes alimentadas pelas histórias de fantasmas. Tem um clima meio circense e um arranjo de flauta muito bom.
05 - Oh! Mulher Infiel (João Ricardo) - O Violão passeando em um acorde trás a melodia que denota intimidade. É o próprio João Ricardo que canta. Dá a sensação de uma pausa.
06 - Voo (João Ricardo/João Apolinário) - Com um baixo magistral a música tem uma levada meio prog que passa bem a sensação de algo voando. Rock de primeira meio folk sobre o poema de João Apolinário.
07 - Angústia (João Ricardo/João Apolinário) - Mais uma que o baixo de Willi simplesmente arrasa. Rock setentista com uma intervenção de guitarra com sonoridade bem psicodélica.
08 - O Hierofante (João Ricardo/Oswald de Andrade) - Rock de alta qualidade sobre um texto de Oswald de Andrade deixando claro que, se Ney era a voz da banda, João Ricardo era o cérebro.
09 - Caixinha de Música do João - (João Ricardo) - Faixa curta e melancólica que funciona como uma transposição para a a última parte do álbum.
10 - O Doce e o Amargo (João Ricardo/P. Mendonça) - Mais um trabalho de cordas bem cunstruido que nos levam a refletir.
11 - Preto Velho (João Ricardo) - Tema contemplativo com uma flauta lindíssima e o vocal de João ricardo num poema introspectivo que olha direto para a alma.
12 - Delírio (Gérson Conrad/P. Mendonça) - Blues arrasa quarteirão de arrepiar. Sempre falo como é difícil fazer blues em portugues, tem que ter muito talento e os caras esbanjam.
13 - Toada & Rock & Mambo & Tango & Etc (João Ricardo/Luhli) - Rock Psicodélico com todas as nuances do estilo, com um vocal sussurrado mostrando o quanto os caras poderiam ter produzido juntos.

Conclusão

Secos & Molhados II é um disco formidável que não pode faltar em nenhuma coleção. Uma obra musical a frente de seu tempo. O talento musical de João Ricardo está a flor da pele, a voz de Ney está impecável. Enfim, uma produção nacional que nos dá orgulho de ser brasileiro.


quinta-feira, 20 de abril de 2017

Qual a sua trilha sonora?

Já que a vida é como um filme, nada mais justo do que uma trilha sonora adequada...
Pink Floyd
Desde que eu me entendo por gente, a música faz parte da minha vida. No começo, não era algo assim tão importante mas quando eu tinha oito para nove anos algo aconteceu. Nós morávamos em Curitiba, bem no centro, na rua Senador Alencar Guimarães. A casa da frente era alugada para um restaurante e nos fundos desta havia um quitinete que era alugado para um hippie. As vezes eu ia lá, para ouvir música e numa dessas vezes eu fui apresentado ao Pink Floyd. Foi amor a primeira audição. Me apaixonei por aquela música cativante, misteriosa e envolvente. Também, não era para menos, afinal The Dark Side Of The Moon é um petardo que impressiona até hoje. O Peninha (o hippie que morava no quitinete) gravou uma fitas para mim que eu ouvia em um gravador mono, que meu pai havia me presenteado.

Led Zeppelin
Quando mudamos para o Rio de Janeiro em 1973, a música continuou sendo uma espécie de trilha sonora da minha vida. Em casa, as tardes eram preenchidas com óperas e operetas que meu padrinho adorava. Eram seis discos por vez numa radiola Philips. Logo ganhei meu próprio toca discos. E começaram a vir os discos. O primeiro álbum que eu comprei foi o Machine Head, do Deep Purple, até que em 74 conheci o Led Zeppelin. Mais uma vez fui impactado e virei fan de carteirinha. Comprei todos os álbuns, aguardava os lançamentos, tinha discos piratas, posters, livros e tudo o que saísse sobre a banda. Na esteira do Led curti muita coisa: Huriah Heep, Deep Purple, Queen, Ted Nugent, Slade e muito mais. Até que ouvi o Emerson, Lake And Palmer e mergulhei no Progressivo com Yes, Triumvirat, PFM, Camel, Renaissance, Jethro Tull, Alan Parson, Supertramp, etc. Certa vez, uma amiga me deu o Álbum Branco do Beatles e finalmente entendi a importância dos quatro garotos de Liverpool. O Abbey Road ainda é, para mim, um daqueles álbuns perfeitos do início ao fim.

Oswaldo Montenegro
Paralelamente a este mundo de baixos guitarras e baterias, conheci, através dos meninos que moravam no mesmo prédio, o chorinho. Como não se derreter ao som do bandolim do Jacob do Bandolim, do cavaquinho do Valdir Azevedo e da flauta do Altamiro Carrilho, isso sem falar nos arranjos do mestre Radamés Gnatalli. Na esteira do chorinho veio uma tal de MPB com os versos magistrais de Chico Buarque, a voz encantadora de Elis Regina, as construções inquietantes de um Zé Ramalho e as baladas de um menestrel chamado Oswaldo Montenegro. É claro que o rock tupiniquim também fez parte desta lida com as Mutações dos irmãos Dias (Mutantes), os trejeitos dos Secos & Molhados, o fruto proibido da Rita Lee que na Casa das Máquinas, rezava um Terço bem Made In Brazil.

Cólera
Mas chegaram os anos oitenta e descobri uma nova força, mais energética, rude e direta. Entrei de cabeça no Punk Rock. Ao som dos Pistols, Clash, Ramones, Toy Dolls, Discharge, GBH, ExploitedDead Kennedys e MDC. Pirei de vez e vi que não estávamos perdidos pois por aqui também tínhamos nossos representantes como: Psikoze, Ratos de Porão, Cólera e Olho Seco. O Impacto do Punk Rock foi tão forte que montamos as bandas Maus Elementos e Paz Armada, em Curitiba, e ainda toquei com o Resistência Nacional e com O Corte.

Antidemon
Em meados da década de 90 conheci Jesus Cristo e minha vida deu uma guinada de 180°. Descobri que cristãos fazem música de alta qualidade e começou tudo de novo. Me encantei com o rock do Tourniquet, Narnia, Bride e Mortification. Me maravilhei com o progressivo do Iona, Ajalon, Unitopia e Neal Morse Band, com a brasilidade do Fruto Sagrado, Katsbarnea, Palavraantiga, Resgate, Antidemon e Rebanhão e com o punk de Value Pac, Slick Shoes, One Bad Pigs e Grave Robber. E Mais uma vez o Punk me levou a montar bandas. Primeiro foi o CHC, depois a Holy Factor e atualmente o Experimento Holy Factor.

É claro que está faltando muita coisa bacana. Mas o espaço é pequeno e não da pra citar todas as bandas que me influenciaram nesta caminhada até aqui. Mas e você, qual é a sua trilha sonora? Comente ai para descobrirmos novos sons.

quarta-feira, 29 de março de 2017

O Mundo Ocidental Se Esqueceu de Onde Veio!

Formado e fundamentado no cristianismo, o ocidente está enterrando sua história e colocando em risco sua sobrevivência!
Estou lendo "Uma Breve História do Cristianismo" de Geoffrey Blainey. Estou na metade do livro entrando na Reforma Protestante, mas desde já recomendo a leitura do livro. Evidentemente não se trata de um tratado sobre uma história tão rica como a da construção da religião cristã no mundo que certamente não caberiam em suas 328 páginas. Mas traz um panorama da evolução da Igreja, suas divisões e ramificações e alguns de seus personagens principais, ao longo das eras. O livro foi escrito em uma linguagem bastante acessível e é bastante útil, principalmente para quem está se iniciando no assunto. Blainey é um escritor, professor e historiador australiano que ficou famoso pelos livros: Uma Breve História do Mundo e Uma Breve História do Século XX. Mas vamos ao que interessa.

Se olharmos a história, devidamente documentada ao longo das épocas, percebemos que a civilização ocidental foi, toda ela, constituída pelo pensamento cristão. Foram as instituições religiosas que fomentaram a arte, a música, a pesquisa científica, o saber humano. Graças ao incansável trabalho de muitos cristãos, boa parte do conhecimento produzido pelo homem foi preservado em intermináveis bibliotecas com seus enormes volumes copiados a mão pelas mãos de padres dedicados. Foi a igreja que implementou hospitais, escolas e universidades. Dedicando-se a Teologia, artes, filosofia e medicina. Patrocinou músicos, pintores, escultores, desenvolveu a arquitetura e a engenharia. Foi graças ao cristianismo e principalmente a reforma protestante que a indústria gráfica pode se desenvolver.

Também foi a igreja que nos deu o sentido de serviço social e outros grandes avanços da humanidade, assim como foram muitos cristãos, reformados que ajudaram a conceber o conceito de laicidade para permitir que todos os pensamentos, mesmo contrários, pudessem ser ouvidos. Mas atualmente vemos a civilização ocidental se esforçando para banir a igreja e o cristianismo da face da terra. A criatura se rebelando contra o criador. Ora. Se a base da sociedade ocidental é o cristianismo, ao enfraquecer esta base cria-se um problema estrutural que torna instável todo o edifício, pois é a base que mantém a construção firme. Se comprometemos a base tudo o que está firmado neste alicerce pode cair. E o que estamos assistindo.

Exatamente isso! A decadência do ocidente. Estamos assistindo a norte lenta e gradual do mundo ocidental. Como um organismo sem imunidade, a cada dia novas doenças sociais vão surgindo e se alastrando pelo corpo criando uma inevitável falência dos órgãos que o mantém vivo. É triste mas é real e inevitável. E você? O que pensa a respeito deste assunto? De sua opinião, ela é importante!

Se tiver interesse no livro citado, segue o link:
http://www.saraiva.com.br/uma-breve-historia-do-cristianismo-4053181.html

quarta-feira, 15 de março de 2017

Uma vez Punk, Sempre Punk!

Sou mais punk hoje do que era no passado!
Quando eu mudei do Rio de Janeiro para Curitiba, em 1984, tudo o que eu sabia sobre Punk Rock era do álbum The Great Rock'n Roll Swindle, dos Sex Pistols, que um grande amigo, Ganso, havia me presenteado. Mas ao chegar na Capital Paranaense conheci, através de meu primo Edson de Vulcanis, os punks de CWB que frequentavam o Lino's Bar, uma espécie de CBGB da Cidade "Sorriso".

Aos poucos fui me enturmando com os caras e também aprendendo mais sobre o movimento, sua música e sua ideologia. Foi um grande impacto na minha cultura musical, pois até então, meu universo musical era do Hard Rock de bandas como: Led Zeppelin, Deep Purple, Uriah Heep e o complexo Rock Progressivo de virtuoses como: Emerson, Lake & Palmer, Triumvirat, Yes, Focus, PFM, etc. Escutar aquelas músicas minimalistas ao extremo, com suas mensagens diretas, sem frescurar e nem solos intermináveis me ensinou algo que até hoje carrego comigo: Conhecimento e técnica são importantes, mas vontade e convicção são mais importantes. Eu descobri que podia tocar.

Eu sempre quiz tocar, mas nunca fui um bom instrumentista, meu conhecimento na guitarra limitava-se a uns poucos acordes e nenhuma habilidade com escalas e solos. Havia feito uma música para um festival escolar que até ficou legalzinha mas nada mais que isso. Uma vez fui fazer um teste para uma banda, no Rio de Janeiro. Foi uma das experiências mais desesperadoras da minha vida! Os caras me trataram bem e foram super simpáticos mas eu fiquei decepcionado comigo mesmo por entender que eu não tocava nada. Troquei minha guitarra, na época, por um toca discos.

Mas ao ouvir álbuns como: SUB, O Começo do Fim do Mundo, Ataque Sonoro, entre outros, minha visão começou a mudar. Ai conheci o Gustavo, o Careca e o saudoso Edilson Del Grossi, eles queriam montar uma banda e precisavam de um guitarrista. Não pensei duas vezes: comprei uma passagem, fui ao Rio de Janeiro, adquiri um exemplar do jornal Balcão e achei uma guitarra a venda. Fiz a compra, voltei para Curitiba e falei com os caras que eu podia tocar guitarra na banda. Fizemos uns ensaios e montamos a banda Maus Elementos. Foi feito um registro em fita de rolo mas nunca achei esta gravação. A banda era muito ruim mas a nossa vontade de tocar era maior do que a nossa incapacidade.

Depois do fim dos Maus Elementos, montamos o Paz Armada que foi bem bacana e fazíamos um hardcore bem legal. Ainda toquei nas bandas O Corte e no Resistência Nacional, mas por questões financeiras acabei parando por um bom tempo. Mas o que restou desta época foi a certeza de que é possível fazer quando você realmente quer e tem uma razão para fazer. Também ficaram a eterna paixão por bandas como: Cólera, Lixomania, Olho Seco, GBH, Discharge, Dead Kennedys e muitas outras.

Atualmente sou cristão mas aprendi no cristianismo uma coisa muito bacana: Jesus não quer destruir culturas, mas iluminá-las. Continuo curtindo o bom e velho punk rock, continuo adepto do DIY (Do It Yourself), continuo gostando do Lo-Fi mas com uma cosmovisão cristã. Ainda ouço muitas bandas antigas e novas e muitas com conteúdo cristão. Sei que uma grande parte dos punks não aceita o cristianismo e muito menos cristãos tocando punk rock, mas também sei que este pré-conceito existe por duas razões: 1) O péssimo testemunho de vida de alguns "cristãos". 2) Por desconhecerem o Evangelho de Jesus Cristo.

O que fica é: Punk's Not Dead

Deixo aqui, dois álbuns para você curtir: Uma antiga gravação da banda Paz Armada e uma da minha banda atual... Curte aí...





quarta-feira, 8 de março de 2017

Escravas da Liberdade

No dia internacional da mulher é bom lembrar que as mulheres são seres maravilhosos pelo simples fato de serem mulheres!

Eu conheço uma pessoa, que vou preservar a identidade, que quando engravidou, tomou uma decisão: largar o emprego e dedicar-se a criação de sua prole, mesmo sabendo que isso deixaria o casal numa situação financeira mais complicada. Foi uma escolha dela e acordada pelo seu esposo. Ao compartilhar sua alegria e sua escolha com suas companheiras de trabalho ele recebeu uma chuva de críticas dizendo que ela não podia fazer isso pois estaria diminuindo a força das mulheres, etc, etc, etc. Minha pergunta é a seguinte; que tipo de liberdade é esta que te impede de tomar uma decisão e que prega que você não pode fazer desta forma?

É evidente que a luta pelos direitos das mulheres é importante. Que muitas coisas foram conquistadas ao longo da história. É uma luta não apenas importante, mas também necessária para garantir às mulheres seus direitos de ir e vir, como qualquer cidadão. Deve haver a luta, principalmente em sistemas sociais onde as mulheres são tratadas como se fosse de uma classe inferior. O problema não é a luta em si. O problema é quando direitos se tornam deveres a ponto de suprimir outros direitos, como o de fazer uma escolha diferente.

Este é o grande problema do feminismo contemporâneo, ele assume uma visão utópica de um mundo perfeito que na realidade não existe, pois o ser humano, de um modo geral é mau. Tanto para o pensamento criacionista que ve os seres humanos como seres caídos como para o pensamento evolucionista que enxerga os seres humanos como animais mais evoluídos, mais ainda assim animais.

Que neste oito de março, cada um de nós possa rever os nossos conceitos e perceber que na humanidade existem traços que nos fazem iguais mas também existem aqueles que nos tornam diferentes. Precisamos entender que: neste mundo de homens e mulheres o mais importante não é sermos iguais, mas compreender as nossas diferenças respeitando-nos mutuamente para construirmos juntos uma sociedade melhor. Então, feliz DIA INTERNACIONAL DA MULHER.

Então, para não ficar nas minhas palavras deixo aqui um pequeno trecho de uma entrevista com Camille Paglia: feminista, lésbica e ateia. Vale a pena assistir.


quarta-feira, 1 de março de 2017

Modos & Estilos #016 - Tangerine Dream - Phaedra

Até hoje não sei dizer se aquelas motos eram reais ou não!
Sempre que escuto este álbum, lembro-me de uma viagem que fizemos a Campos do Jordão. Durante a subida da serra, com o sol se pondo ao fundo em contraste com uma das curvas da rodovia surgem quatro motociclistas com suas respectivas máquinas em fila fazendo a curva em prefeito sincronismo com a música que tocava no carro. Era Phaedra, da banda alemã, Tangerine Dream. Era um outro tempo, outros amigos e outras experiências.

A Banda

O Tangerine Dream é uma banda de rock progressivo eletrônico, oriunda de Berlim, que iniciou suas atividades em 1967. O grupo foi fundado pelo tecladista Edgar Froese (1944/2015). O TD passou por inúmeras formações que sempre orbitaram em torno de Froese, bem como de várias fazes musicais, indo puro experimentalismo psicodélico, passando pela música eletrônica, o prog mais acessível e até uma produção mais comercial, sem perder a qualidade. Sua fase áurea vai de 1974 até 1982, época em que foram produzidas pérolas musicais como: Phaedra, Stratosfear, Cyclone e Force Majeure, com destaque para o álbum Phaedra, considerado pela crítica e pelo público como a obra prima da trupe.

Phaedra

Lançado em 1974, este é o quinto álbum da banda. É o primeiro lançado pelo selo Virgin e inaugura a fase mais eletrônica do grupo. Como já foi citado, é considerado, por muitos, o melhor álbum lançado pelo grupo. Foi gravado em novembro de 1973 no The Manor em Shipton-on-Cherwell, Inglaterra. Também é o primeiro trabalho a utilizar um sequenciador Moog que acabou por criar uma característica sonora, conhecida como Escola de Berlim. Entre problemas nos ajustes do sequenciador e até a quebra de um gravador o álbum contou com a participação de Monique (esposa de Froese).

Phaedra também foi responsável pelo sucesso da banda fora da Alemanha. É citado All Music Guide como: "uma das obras mais importantes, artísticas e excitantes da história da música eletrônica". Na formação deste disco estão: Edgar Froese, Peter Baumann e Christopher Franke. Foi lançado ainda um single com as músicas Mysterious Semblance at the Strand of Nightmares e Phaedra, em versões ultra reduzidas.

As Faixas

As quatro faixas deste clássico da música são de arrepiar e trazem todo um clima cósmico e meio sci-fi. O álbum começa com a faixa título que toma quase dezoito minutos da obra e é completado por três faixas menores mas não menos espetaculares, que compõe um conjunto magistralmente perfeito. Mal dá para crer que tanto foi gravado em tão pouco tempo com os recursos, hoje, tão escassos da época. Vamos as faixas.
  1. Phaedra (Peter Baumann / Christopher Franke / Edgar Froese) - É uma viagem. A peça tem um clima bem espacial com intervenções sonoras ao longo de um ritmo constante como se estivéssemos navegando por oceanos cósmicos e etéreos. É impressionante as nuances que vão criando climas diferentes ao longo da composição.
  2. Mysterious Semblance at the Strand of Nightmares (Edgar Froese) - Esta faixa inicia como uma continuação da anterior, mantendo um clima de mistério mas ao mesmo tempo de doçura como se estivéssemos numa espécie de descanso da alma.
  3. Movements of a Visionary (Peter Baumann / Christopher Franke / Edgar Froese) - Totalmente experimental, apresenta um laboratório de experiências sonoras com utilização de modulação e eco. Mais uma vez o uso de sequenciador cria um clima hipnótico intermediado por sons e silêncios que compõe uma sinfonia eletrônica.
  4. Sequent C (Peter Baumann) - Com seu clima de "Chegamos ao Fim" Sequent C nos conduz para uma atmosfera de reflexão e contemplação. Excelente.

Conclusão

Phaedra é um marco na história da banda e da música eletrônica. É impressionante como uma obra com mais de quarenta anos de idade soa tão atual e mais impactante agora do que na época. Uma aula de musicalidade e experimentalismo que coloca o Tangerine Dream ao lado do lendário Kraftwerk no panteão da música eletrônica. É um disco obrigatório para quem gosta de boa música e para quem quer conhecer este estilo. Abaixo uma opção de audição.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Punks Não Morrem, Viram Rebites!

Não tem nada mais punk do que ser crente!
Quando o Eduardo Teixeira lançou o documentário Cristo Suburbano, é bem provável que ele não imaginava aonde isto tudo chegaria. O que era para ser um documentário ao melhor estilo DIY para contar a história da cena punk cristã no Brasil rendeu, além do vídeo, um selo que distribui material de várias bandas, um ministério, três coletâneas, um blog, canal no Youtube e muitos planos para o futuro. No campo das coletâneas foram, até o momento, três edições. A primeira, em 2015 com 23 bandas, a segunda em 2016 com 44 bandas e a terceira de 2017 com 56 bandas, sendo 9 faixas de bandas internacionais de peso como Mark Main e Grave Robber. Mas vamos a esta coletânea.

A compilação Cristo Suburbano Volume 3, como já foi dito, conta com 56 faixas de bandas da cena JCHC (Jesus Christ HardCore) nacionais e internacionais. São vários estilos dentro do punk produzido por cristãos e não há como analisar cada música separadamente. Mas posso fazer uma análise do conjunto da obra. Uma palavra: sensacional. Começando pela ótima capa (figura), desenhada pelo Adriano, da banda curitibana Nova Prole, que já dá uma ideia do conteúdo. A seleção das músicas está excelente com áudio bem equilibrado, entre cada faixa, bem como a qualidade das gravações. Algumas bandas prepararam canções exclusivas para este mega álbum. O download pode ser feito de forma gratuita na página do selo no Bandcamp.

Mas o grande mérito desta coletânea é ver a quantidade de bandas excelentes que existem na cena punk cristã nacional. Para quem quer ter uma ideia do panorama musical do estilo é uma ótima oportunidade. Além do mais, é gratificante ver que mesmo sem nenhum apoio da mídia de massas o underground continua vivo e produzindo muito música boa. Também não podemos esquecer do empenho do Eduardo Teixeira que organizou esta coleção, que certamente ficará na história. A mim só resta te dizer uma coisa. Escute!

Nota: O título desta matéria é uma matéria do punk curitibano Flávio Fardado.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Sistema conturbante para um mundo conturbado!

Num mundo materialista e egoísta como o nosso, até um pedaço de pano é motivo de polêmica.
Recentemente vimos o lamentável episódio em que uma menina branca estava utilizando um turbante, por conta da queda de cabelo em virtude de um tratamento contra o câncer, e foi hostilizada por mulheres negras que a acusaram de apropriação cultural. Mas o que vem a ser isso?

Tecnicamente, a apropriação cultural ocorre quando uma cultura se apropria de algo que é exclusivo de outra. Mais ou menos como se um Sulista saísse na rua com um chapéu de cangaceiro, que é diretamente ligado a cultura do cangaço. Evidente que o assunto é mais abrangente mas isto aqui não é um tratado científico. A questão é: Será que isso é realmente relevante?

Vejamos: recentemente aconteceu um episódio na Câmara Federal em que um deputado afirmou que negros não deviam ser evangélicos e que deveriam voltar para os terreiros que é o seu lugar, de acordo com suas raízes culturais. Ora, neste caso, os índios não poderiam viver nas cidades e nem usar roupas. Este tipo de afirmação, me parece uma violação da liberdade do ser humano em ir e vir. É interessante como um grupo consegue defender o direito de matar um ser humano, ainda no ventre de sua mãe e coíbe o direito de vestir um pedaço de pano. Mas de onde vem esta confusão mental que parece ter tomado conta das pessoas? Minha opinião pessoa é de que esta guerra ideológica de classes é fruto de uma proposta chamada Marxismo Cultural. Mas que bicho é esse?

Vamos pelo começo: O marxismo é uma ideologia ou doutrina propalada por um carinha chamado Carl Marx, que viveu no início da Revolução Industrial, em que o mundo passava de um estado de extrema pobreza para uma produção de riqueza muito grande. Entre seus feitos notáveis, Marx, que viveu no início da revolução industrial previu que haveria uma grande geração de riquezas oriundas desta mudança na forma de se produzir bens de consumo e, consequentemente, no nascimento do capitalismo. No entanto o capitalismo que Marx conheceu era bem diferente do de hoje, pois tratava-se de um capitalismo sem os princípios da democracia. Marx percebeu que este pré capitalismo, sem regras e sem leis, não tinha possibilidade de se harmonizar com a democracia de massas. Face a isso, ele escreveu muitas obras incluindo sua mais famosa: O Capital, onde ele criticava esta característica do capital não casar com a natureza humana. Entretanto Marx não percebeu que a Revolução Industrial havia herdado pobreza e não criado pobreza como ele achava. O fato das classes trabalhadoras trabalharem muito, vinha de uma herança de muito trabalho do mundo anterior a Revolução Industrial, onde era comum trabalhar 12 horas por dia, mulheres trabalharem e inclusive crianças trabalharem.

Na sua visão, Marx, começa a defender a tomada dos meios de produção, pelas classes trabalhadoras, para tentar romper a relação entre opressor e oprimido. Parece bonito mas não é bem assim. Na verdade escondia a implantação de uma ditadura do proletariado que hoje tentam dizer que se trata de uma democracia mas não é. Marx entra num aspecto quase religioso tentando trazer um futuro utópico para o presente. Este socialismo marxista acaba ganhando a admiração de muita gente, criando uma tentativa de implantá-lo em muitos países. Por conta de uma cultura não democrática, o socialismo e comunismo baseados nas idéias marxistas tem facilidade de serem implementados em nações orientais. Já nas nações ocidentais suas idéias encontram oposição em virtude da herança democrática grega e da fé cristã que defende a liberdade total do ser humano. Ou seja, no mundo ocidental, com democracias bem instaladas e um capitalismo forte Marx estaria condenado a ser lembrado apenas como um grande teórico se não houvesse surgido um tal de Antonio Gramsci.

Gramsci foi um filósofo marxista, jornalista, crítico literário e político italiano. Escreveu sobre teoria política, sociologia, antropologia e linguística. Suas maiores obras foram escritas nos vinte anos em que esteve preso sob o regime de Mussolini. Os Cadernos do Cárcere (31 livros) são um compêndio que mostram como implantar a revolução socialista no ocidente. Gramsci percebeu que, diferentemente do que Marx acreditava, era o pensamento que afetava a vida e não o contrário. Ele, então, cria um método de sedução, tal qual a serpente no Éden, para plantar no ser humano ocidental a vontade de provar do fruto do Socialismo. Seus métodos são sutis e se baseiam numa tomada lenta e gradual dos meios de formação intelectual e acadêmica. Ele defendia que o partido tem uma função orgânica de ocupar espaços para levar as idéias às pessoas de modo a convencê-las de que o socialismo é uma solução superior ao capitalismo. Esta metodologia faz com que as pessoas passem a ver o Socialismo Marxista não como um movimento político mas como o centro do saber humano que estava vedado aos menos favorecidos. Mais ainda, coloca estes pensamentos como a única fonte de verdade daqueles que são considerados racionais e qualquer pensamento contrário passa a ser taxado como irracional e opressor sem sequer ser analisado. Isto é o que se chama Marxismo Cultural.

Mas ele também entende que os contrários irão se manifestar. Para isso o marxismo cultural promove a ideia de luta de classes onde o pensamento marxista representa o oprimido e o pensamento contrário sempre será o opressor. No Brasil vemos os ideais de Gramsci claramente aplicados nos documentos e cartilhas da formação do PT (Partido dos Trabalhadores) que tem por objetivo final, a implantação de uma ditadura do proletariado em nosso país, utilizando principalmente as escolas e as universidades para espalhar o ideal marxista e assim criar uma população acadêmica que não é levada a racionalizar mas sim a militar em prol de uma ideologia que simplesmente silencia os contrários.

São estes ideais que de tem dividido o país em uma eterna batalha de classes, que enfraquecem a população facilitando a tomada de poder. O Marxismo Cultural cresce a passos largos e prega uma liberdade onde somente quem adota seus princípios tem o direito a expressão e qualquer um que pense diferente é taxado de opressor. Criaram uma geração incapaz de pensar onde tudo lhes afeta e agride. Uma fórmula do politicamente correto que amordaça a liberdade de pensamento, expressão e opinião. É por conta disso que um simples turbante se torna em motivo de discórdia. E, me desculpem os otimistas, mas não consigo enxergar uma mudança de direção mas apenas um futuro onde sua escolha será: se adequar ao sistema ou se adequar ao sistema.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Música de Protesto. Existe Ainda?

Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação

Banda Aborto Elétrico
Nos anos 80, o Brasil se viu invadido pelo fenômeno do Punk Rock, de norte a sul do país. Longe das mentiras propagadas pela mídia oficial, com suas matérias absurdas que retratavam os punks como garotos que vomitavam em velhinhas, uma cena underground baseada na música, arte e cultura urbana vinha se desenvolvendo. Rapidamente, bandas pipocavam por todos os lados, trazendo na sua bagagem, letras como "Que País é Este" da brasiliense Aborto Elétrico (embrião do Legião Urbana). Na cena paulistana, meninos da periferia descobriam uma forma de ter a sua visão de mundo ouvida através das músicas e dos fanzines.

Havia uma preocupação, real, com a situação da época. Havia um grito no ar, de uma sociedade sufocada, mas ainda consciente: "Não dá mais pra aguentar, Essa vida ruim, Essa vida de pião, Você anda sem nenhum tostão, Eles pedem dinheiro emprestado, E tiram do pobre coitado, Essa EXPLORAÇÃO, Vai acabar com a população" (Vida Ruim - Ratos de Porão). Bandas como Cólera, Inocentes, Lixomania ecoavam as vozes sufocadas de um povo sofrido. É lógico que havia a zoeira e a diversão também, mas existia um desejo de mudança e uma esperança de que isso pudesse acontecer. "Às vezes tenho raiva, Às vezes sinto que a ilusão, Me faz recuar, Pois muita gente mente, Pois muita gente dá a mão, Só pra empurrar." (Medo - Cólera). Mesmo a cena Mainstream, mantida pela indústria da música encontrava espaço para uma crítica social consciente com nomes como: Legião Urbana, Titãs, Paralamas, Ultraje, Lobão, etc. "A gente não sabemos escolher presidente, A gente não sabemos tomar conta da gente, A gente não sabemos nem escovar os dente, Tem gringo pensando que nóis é indigente. Inútil! A gente somos inútil. Inútil! A gente somos inútil" (Inútil - Ultraje a Rigor)

Banda Cólera (ainda com o Redson)
Tudo levava a crer que algo iria acontece e aconteceu, mas não como se pensava. Ao contrário de uma virada no jogo, o sistema foi quem deu o troco, levando alguns "protestantes" para o seu lado, com contratos lucrativos, fama, mulheres e drogas. Muitos daqueles garotos cheios de ideias e ideais se conformaram, outros aderiram ao modo de vida do sistema, uns poucos continuaram a caminhada, e tudo foi sendo sufocado ao mesmo tempo em que o establishment tratava de criar uma "cultura" de massa baseada na banalidade primeiramente com musicalidade e letras idiotas e posteriormente até a musicalidade foi perdendo espaço chegando aos nossos dias.

Hoje, nosso país vive, mais uma vez, uma crise política e social sem precedentes e as palavras de protesto se restringem a postagens, muitas vezes, duvidosas nas redes sociais. O protesto através da arte deu lugar a apologia da marginalidade e da decadência moral. Vemos paulatinamente nascer uma geração de zumbis famintos por lixo.

Existe ainda, é claro, musica consciente, mas sem o alcance social que existia antes, e o que é pior: existe um pseudo música de protesto feita por gente comprometida por interesses de um grupo que só quer assumir o poder no lugar do anterior. No Maistream temos lixo pop e na periferia temos uma coisa que não dá nem para explicar o que é. Cabeças ocas, cheias de vento estocado, que só produzem flatulência cultural.

E você? Tem escutado músicas, atuais, que denunciam, que protestam, que alertam para toda esta decadência social que estamos vivendo. Se você conhece, então comente ai embaixo para ajudar a divulgar aqueles que ainda estão conscientes. Grande abraço!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Modos & Estilos #015 - Sparks - Propaganda

Confesso que não me lembro quem me apresentou a banda Sparks, mas lembro perfeitamente que foi a álbum Propaganda e que foi amor a primeira audição!

Capa do Álbum
A banda Sparks foi formada pelos irmãos Ron e Russell Mael no final dos anos 60, em Los Angeles, Califórnia, sob a forte influência da psicodelia reinante por aquelas bandas. Com seus vocais operísticos e letras inteligentes a banda passa por várias fazes registradas em seus vinte álbuns lançados entre 1971 e 2006.

As músicas são marcadas pela ironia e bom humor, muitas vezes amado e outras odiado. Em alguns momentos soa até mesmo meio infantil. Mas há de se destacar a musicalidade da dupla com os arranjos vocais e instrumentais de altíssima qualidade e talento.

O álbum Propaganda que foi lançado em 1974 trás todos os elementos que marcaram o grupo e merece estar em qualquer coleção de quem ama boa música. São onze faixas de tirar o fôlego. Foi lançado em novembro de 1974 logo pós o excelente Kimono My House e relançado em 2006 com três músicas a mais.

Nós vamos analisar a versão original, que era o que eu possuía na minha coleção. Confesso que não lembro quem me apresentou o Sparks. É bem provável que tenha sido meu amigo Hamilton.

As Músicas


1 Propaganda - 0:23 - Uma crítica ao sistema que utiliza o marketing para convencer as pessoas e principalmente os jovem a lutar por causas nem sempre tão nobres. A faixa é curtíssima mas usa uma série de sobreposições de vozes em tom operístico que conseguem colocar uma letra gigantesca em pouco mais de vinte segundos.
2 At Home At Work At Play - 3:06 - A letra, enorme, fala sobre o cara que não tem tempo para nada e só quer estar com sua paixão onde quer que seja. A música lembra os hard rocks típicos da década de setenta.
3 Reinforcements - 3:56 - A Letra discursa sobre uma batalha em que o protagonista precisa de reforços, mas tem um duplo sentido que pode ser traduzido como uma batalha pessoal ou algo do tipo. A melodia é mais uma com o tom operístico tradicional do grupo, pop rock da melhor qualidade com peso certo e um clima psicodélico que parece ter saído de um sonho.
4 B.C. - 2:14 - Esta fala sobre um relacionamento e mais uma vez o sarcasmo está em toda a parte. Virtuosismo com tom de deboche aliados a um trabalho de baixo muito bem elaborado e vocais bem construídos em cima de uma batida constante.
5 Thanks But No Thanks - 4:15 - A letra conta a história de alguém que segue uma espécie de instinto ou ordem superior para seguir mesmo tendo outras possibilidades. Outra que carrega a psicodelia dos anos setenta na ponta da agulha. Melodias simples e sofisticadas ao mesmo tempo e um trabalho de percussão que garante o clima certo.
6 Don't Leave Me Alone With Her - 3:03 - A letra muito bem construída revela um relacionamento indesejado mas que pelos outros é visto como inevitável. Quase uma continuação da anterior mas com mais peso na guitarra. O interessante das músicas da banda é cada faixa privilegia um instrumento em particular. Aqui é a guitarra com drive equilibrado que dá o ambiente para a canção.
7 Never Turn Your Back On Mother Earth - 2:29 - Uma epopeia lisérgica que fala sobre vida com uma pegada naturalista. Bem Flower Power. Balada carregada de emoção com trabalho de orquestra criando uma bela harmonia sobre os vocais bem cuidados desta faixa.
8 Something For The Girl With Everything - 2:18 - Totalmente tresloucada a música é a respeito de uma garota, ou algo, que não pode ser incomodado. Traz a marca da banda com seu clima meio psicótico e atormentadoramente debochado. Sarcasmo, ou apenas diversão de quem entende de música? Da metade para frente ganha o peso do glam dos anos setenta.
9 Achoo - 3:35 - Letra existencialista sobre a vida em que a realidade sempre inverte a verdade sem perder o tom de sarcasmo. Psicodelia sessentista de garotos que não levam nada a sério com uma interjeição sonora hilária. Poderia chamar de uma espécie de punk progressivo.
10 Who Don't Like Kids - 3:37 - Quem não gosta de crianças? Pode haver um segundo sentido na pergunta mas a música é ótima. Sem dúvida uma das faixas mais bacanas do álbum. Todos os elementos que caracterizam a banda numa mesma composição. Não dá nem para rotular. Perfeita.
11 Bon Voyage - 4:55 - A letra brinca com o ceticismo e a religiosidade quando se aproxima o fim da vida. Questiona mas não emite uma opinião definitiva. O álbum não poderia terminar com uma música melhor. Novamente a atmosfera psicodélica com vocais magistrais mostra todo o potencial e talento dos Sparks.

Para ouvir:


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Quando ouvir música era um ritual

Se você tem menos de trinta anos leia para saber como era e sem tem mais de trinta leia para lembrar como foi!

Quando eu era um adolescente, la no Rio de Janeiro, e não havia música em formato digital e a internet era inimaginável para nós, ouvir música era um ato quase religioso. Na nossa turma, tínhamos o hábito de sempre adquirir discos diferentes para permitir a troca entre amigos e com isso ter acesso a uma quantidade maior de obras. A escolha dos álbuns adquiridos tinha que ser rigorosa, pois além de caros, não podíamos nos dar ao luxo de comprar um disco com uma ou duas músicas boas e descartar o restante. Na loja de discos do bairro que eu morava, o Leme, havia a possibilidade de ouvir os LPs  antes de comprá-los. Estas restrições e dificuldades acabavam nos tornando seletivos e criteriosos. Em resumo: não tínhamos tempo e nem dinheiro para esbanjar com qualquer lixo.

Depois de adquirir a bolacha (apelido carinhoso para os long-plays de 12 polegadas) havia o momento mágico da audição. Retirar da capa, ler encartes, ver ilustrações, a flanelinha para eliminar impurezas, colocar no toca discos, deitar delicadamente a agulha sobre o vinil e deliciar-se com os acordes que vinham dos alto-falantes. Depois de escutar o lado A havia ainda a necessidade de virar o disco para ouvir o lado B.

Era um tempo em que a música exigia um tempo para ela. Por outro lado, o ouvinte exigia conteúdo das músicas. Não apenas qualidade musical mas uma mensagem que fosse de encontro as suas idéias e ideais. A música fazia parte de nossas vidas e nos ajudava na formação cultural e crítica. Nossos ouvidos estavam habituados com acordes complexos e os tempos quebrados do jazz e do progressivo, com a graça do chorinho, com a energia do hard rock e com a riqueza poética da MPB. Isso sem falar no engajamento político e nas preocupações sociais que as músicas discutiam de forma direta ou indireta.

Creio que o alto custo para se adquirir música e a dificuldade em conseguir obras mais raras tenha sido um fator de peso para que a música ocupasse um lugar de honra em nossas vidas.

Mas então o que aconteceu. Porque hoje, grande parte do público é menos seletiva e consome qualquer coisa independente do conteúdo ser refinado ou não? Eu acredito que um dos fatores que contribuiu para isso é justamente a facilidade que se tem hoje para consumir música. Atualmente qualquer Smartphone está recheado com milhares de músicas e o advento do Streaming nos dá acesso a milhões de canções que levam a dois extremos, a saber: Não dá para ouvir tudo e ouve-se o máximo possível e por conta disso a música passou a desempenhar um papel de mera trilha sonora para a corrida pela manhã, a academia, o trajeto para o trabalho, e para que ela não desvie a atenção do caminhante, do motorista ou do trabalhador ela precisa ser fácil de assimilar e de descartar. Resumindo, a música perdeu seu lugar de honra e passou a ser apenas um preenchimento sonoro nos silêncios da vida. Isto é tão verdade que quando você olha um aplicativo para música não é raro encontrarmos listas de faixas para tomar banho, lavar louça, andar de bicicleta, viajar, dormir, etc.

É claro que nem tudo está perdido e as facilidades tecnológicas também tem contribuído para aquele grupo de pessoas, embora pequeno, que tem interesse em boa música. Musica para sentar e ouvir. Comentei sobre isso em outra matéria neste blog (A Indústria da Música Está em Crise. Que Ótimo!!!). Admito que este tempo em que uma obra musical exercia fascínio, dificilmente retornará, mas gostaria que você prestasse mais atenção naquilo que ouve. Um abraço.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Modos & Estilos #014 - Focus - Live At The Rainbow

Um certo dia estava na casa de um amigo e ele me mostrou e colocou para tocar o LP Live At The Rainbow da banda Focus. No dia seguinte eu já estava na loja de discos, do bairro, comprando um exemplar para minha coleção. Foi amor a primeira vista e é sobre esta banda e este álbum que iremos tratar nesta postagem.



O Focus é um grupo holandês de Rock Progressivo formado em 1969 pelo músico Thijs Van Leer (Teclado e Flauta). O Grupo lança seu primeiro álbum, intitulado In and Out of Focus, em janeiro de 1971, seguido do Moving Waves, ainda em 71 e Focus III no final de 72.

Em outubro de 73 lançam seu primeiro registro ao vivo, o lendário Focus at the Rainbow que iremos analisar nesta postagem. O álbum foi gravado no Rainbow Theatre em Londres em 5 de maio de 1973. Seu lançamento não estava previsto mas devido a divergências internas foi lançado no lugar de um álbum de estúdio que estava previsto para ser lançado mas foi adiado.



O disco trás a formação clássica com Thijs van Leer (teclado, flauta e vocais), Jan Akkerman (guitarra), Bert Ruiter (baixo) e Pierre van der Linden (bateria) e mostra toda a musicalidade da banda ao vivo, com espaço para performances mais arrojadas e improvisos.

Trata-se de um registro indispensável em qualquer discoteca de rock de respeito. Vale lembrar que a banda é, até hoje,considerada uma das maiores do gênero com uma musicalidade a frente do seu tempo, misturando elementos do rock, do jazz e da música erudita. Mas vamos ao disco.

As Músicas


1 - Focus III - O disco inicia com esta fantástica peça instrumental do álbum homônimo onde a guitarra de Akkerman é o ponto alto da faixa. Tema curto e lindo.

2 - Answers? Questions! Questions? Answers! - Sem intervalo, chegamos a este tema energético, que também faz parte do Focus 3, com seus vocais de fundo e um órgão maravilhoso e muitas mudanças de ritmo. Encanta qualquer um que aprecie boa música. A flauta de Thijd van Leer trás um clima que mistura o moderno e o erudito numa alquimia perfeita. Destaque para a o trabalho de van der Linden na bateria criando as mudanças de ritmo e o clima para esta composição intrigante e instigante. A integração do teclado e guitarra com o baixo e a bateria é espetacular. São quase 12 minutos de instrumental com vários elementos do Jazz. Uma obra prima!

3 - Focus II - Esta vem do álbum Moving Waves e apresenta uma linha de guitarra exuberante que passeia em cima de uma base simples e solida fornecida pelos demais instrumentistas.

4 - Eruption - Também do álbum Moving Waves, aqui ganha uma versão mais comedida com pouco mais de oito minutos contra os mais de 23 minutos da versão de estúdio. Trata-se de uma peça em vários movimentos com características bastante fortes da música erudita.

5 - Hocus Pocus - Esta talvez seja uma das músicas mais emblemáticas da banda e se transformou num hino que representa a identidade da trupe holandesa. A pegada quase hard, a bateria bem trabalhada, o riff insistente e o vocal ensandecido cantado a tirolesa. Um clássico. Se você não conhece a banda deveria pelo menos ouvir este som. Esta música também é do álbum Moving Waves.

6 - Sylvia - Tema rápido que faz parte do álbum Focus 3, musica alegre e divertida com uma linha de guitarra muito bem escrita, daquelas que cola. Um bálsamo para os ouvidos.

7 - Hocus Pocus (reprise) - Para encerrar, a banda retorna com seu carro chefe, a linha de baixo neste trecho é matadora. Hocus Pocus é uma espécie de Prog Punk bem antes do surgimento do punk. A mistura com vocais clássicos e o passeio pelo Tirol são mágicos e funcionam perfeitamente. Termina quase um hardcore oldschool.

Conclusão


Focus Live At The Rainbow é um LP indispensável para quem quer conhecer esta banda e nos incentiva a escutar os outros trabalhos do grupo e compreender porque, até hoje, o Focus é considerado um dos maiores e melhores grupos de rock progressivo da história. Uma referência no gênero e uma escola para muita gente boa. Vale a pena cada segundo.