quarta-feira, 5 de abril de 2017

Modos & Estilos #017 - Mutantes - Tudo Foi Feito Pelo Sol

Quando nos deparamos com uma banda nacional que chega neste nível, bate até um certo orgulho de ser brasileiro.
Rui, Pedro, Túlio e Sérgio
Que a banda brasileira, Os Mutantes, é uma referência, ninguém duvida. Muito se fala da obra deste grupo que teve até a nossa rainha do rock, Rita Lee, na formação inicial da trupe liderada pelos irmãos, Arnaldo e Sérgio Batista. Mas os anos 70 não foram só flores. O consumo de drogas e as constantes brigas internas acabaram por deixar Sergio Dias sozinho após o lançamento do álbum Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, em 1972. No entanto o virtuoso guitarman não podia parar sua febre criativa e recrutou um novo time de feras para o próximo trabalho.

Sérgio montou uma nova banda que contava com: Antônio Pedro no baixo, Rui Motta na bateria e o fantástico Túlio Mourão nos teclados e completada Serginho nas guitarras. Com este quarteto de peso trocam a gravadora Polydor pela Som Livre e registram o sexto álbum da banda: Tudo Foi Feito Pelo Sol.

Capa - Não há créditos sobre a capa
Este álbum, na minha opinião, não é apenas o melhor disco dos Mutantes, mas um dos melhores discos de rock progressivo de todos os tempos. É claro que existem influências do Yes, mas quem não foi foi influenciado pelo Yes? O álbum tem uma linguagem própria e uma performance impecável. Tudo é perfeito neste disco lançado em 1974 com 7 faixas, uma capa linda, encarte e tudo o que se tem direito. Lembro-me quando adquiri a obra prima e fui capturado logo nos primeiros movimentos.

Recentemente o álbum foi relançado em CD com três faixas bônus do compacto Cavaleiros Negros, que enriqueceram ainda mais o material. Vale lembrar que este álbum tornou-se um item de colecionador disputadíssimo, principalmente fora do Brasil. Neste artigo vou analisar o original para relembrar o impacto que ele causou.

As Faixas


Deixe Entrar Um Pouco D'água No Quintal - A música abre com um excelente trabalho de baixo e bateria logo enriquecido pelo teclado e a guitarra frenética de Sergio. Os Vocais estão perfeitos, as quebras de ritmo e temas ao longo da faixa criam uma massa sonora de deixar tonto. É muita informação para uma única audição.

Pitágoras - Linda! Não consigo encontrar outro termo para definir esta peça musical. Simplesmente linda. Como é bom ouvir o trabalho de pessoas talentosas. A introdução de piano e guitarra é uma delícia que vai sendo temperada pela precursão e um baixo que continua o riff inicial enquanto o teclado viaja para outra dimensão. Além disso há uma brasilidade intrínseca que, só escutando para entender.

Desanuviar - Com um clima etéreo vamos a terceira faixa que nos leva a uma outra dimensão. Uma música filosófica. Soa leve como uma nuvem e aos poucos vai assumindo uma mudança de clima como num dia nublado passando para uma viagem a lá pink floyd que é extirpada repentinamente terminando em um clima meio caótico e reflexivo.

Eu Só Penso Em Te Ajudar - Balada rock com todos os elementos mas que mostra como os caras sabem o que estão fazendo, afinal rock em português é algo complicado, mas não para os mutantes. Nossa língua é percussiva mas Sérgio Dias consegue soar britânico cantando na linguagem do Lácio.

Cidadão da Terra - Mas um tema bem trabalhado com os elementos que marcam o progressivo britânico e que mostram que a banda, mais que um grupo nacional, é uma trupe do mundo. Uma aula de composição que soa simples e sofisticada ao mesmo tempo. O baixo se destaca bastante na faixa e a bateria está impecável.

O Contrário de Nada é Nada - Rock'n Roll. Bem no estilo do rock nacional da época. Soa até um pouco estranha no contexto do álbum, mas funciona bem. E serve como uma pausa depois de tanta informação. A própria letra da a entender que ela é um refresco para a próxima faixa.

Tudo Foi Feito Pelo Sol - Chegamos ao final da obra. Uma canção altamente contemplativa. Fecha o álbum em grande estilo. Mais uma vez o quarteto se supera. Vocais, teclados, guitarras, baixo e bateria estão impecáveis. Destaque para a belíssima linha de contra-baixo que dá o tom. Enfim, escute!

Resumo


Tudo Foi Feito Pelo Sol é um disco épico que não pode ficar fora de nenhuma discoteca de respeito. É uma obra para ser ouvida várias vezes, pois a cada audição, novas texturas vão se revelando e o ouvinte pode compreender porque esta banda é tão respeitada dentro e fora do país, aliás, mais fora do que dentro. Minha esperança é que este artigo incentive as novas gerações a ouvir este trabalho e entender porque somos tão saudosos e porque os anos setenta são tão importantes para a música do planeta.

Segue o link para audição: Tudo Foi Feito Pelo Sol

quarta-feira, 29 de março de 2017

O Mundo Ocidental Se Esqueceu de Onde Veio!

Formado e fundamentado no cristianismo, o ocidente está enterrando sua história e colocando em risco sua sobrevivência!
Estou lendo "Uma Breve História do Cristianismo" de Geoffrey Blainey. Estou na metade do livro entrando na Reforma Protestante, mas desde já recomendo a leitura do livro. Evidentemente não se trata de um tratado sobre uma história tão rica como a da construção da religião cristã no mundo que certamente não caberiam em suas 328 páginas. Mas traz um panorama da evolução da Igreja, suas divisões e ramificações e alguns de seus personagens principais, ao longo das eras. O livro foi escrito em uma linguagem bastante acessível e é bastante útil, principalmente para quem está se iniciando no assunto. Blainey é um escritor, professor e historiador australiano que ficou famoso pelos livros: Uma Breve História do Mundo e Uma Breve História do Século XX. Mas vamos ao que interessa.

Se olharmos a história, devidamente documentada ao longo das épocas, percebemos que a civilização ocidental foi, toda ela, constituída pelo pensamento cristão. Foram as instituições religiosas que fomentaram a arte, a música, a pesquisa científica, o saber humano. Graças ao incansável trabalho de muitos cristãos, boa parte do conhecimento produzido pelo homem foi preservado em intermináveis bibliotecas com seus enormes volumes copiados a mão pelas mãos de padres dedicados. Foi a igreja que implementou hospitais, escolas e universidades. Dedicando-se a Teologia, artes, filosofia e medicina. Patrocinou músicos, pintores, escultores, desenvolveu a arquitetura e a engenharia. Foi graças ao cristianismo e principalmente a reforma protestante que a indústria gráfica pode se desenvolver.

Também foi a igreja que nos deu o sentido de serviço social e outros grandes avanços da humanidade, assim como foram muitos cristãos, reformados que ajudaram a conceber o conceito de laicidade para permitir que todos os pensamentos, mesmo contrários, pudessem ser ouvidos. Mas atualmente vemos a civilização ocidental se esforçando para banir a igreja e o cristianismo da face da terra. A criatura se rebelando contra o criador. Ora. Se a base da sociedade ocidental é o cristianismo, ao enfraquecer esta base cria-se um problema estrutural que torna instável todo o edifício, pois é a base que mantém a construção firme. Se comprometemos a base tudo o que está firmado neste alicerce pode cair. E o que estamos assistindo.

Exatamente isso! A decadência do ocidente. Estamos assistindo a norte lenta e gradual do mundo ocidental. Como um organismo sem imunidade, a cada dia novas doenças sociais vão surgindo e se alastrando pelo corpo criando uma inevitável falência dos órgãos que o mantém vivo. É triste mas é real e inevitável. E você? O que pensa a respeito deste assunto? De sua opinião, ela é importante!

Se tiver interesse no livro citado, segue o link:
http://www.saraiva.com.br/uma-breve-historia-do-cristianismo-4053181.html

domingo, 26 de março de 2017

Sem Memória, Não Há História

Quando destruímos um passado de glórias, talvez estejamos apontando para um futuro de incertezas.
Foto 1 - Antigo Templo
Esta semana fui surpreendido pela notícia da demolição do antigo templo sede da Igreja Evangélica Assembleia de Deus da cidade de Ponta Grossa, PR. Trata-se de um prédio simples de linhas sóbrias (foto 1) que ficava na Rua do Rosário, no centro, e que por muitos anos assistiu a conversões, batismos, curas, casamentos e toda sorte de acontecimentos da comunidade assembleiana residente na Princesa dos Campos Gerais do Paraná. A decisão de por abaixo o prédio, partiu da cúpula da igreja e dividiu opiniões. Os contrários lamentando não apenas a perda material, mas principalmente a sentimental visto que muitas pessoas nasceram, cresceram, casaram e apresentaram seus filhos ali. Também há os que lamentaram por ser uma edificação que faz parte da história da denominação e do município. Já os favoráveis se valem de citações de textos bíblicos e da soberana decisão da presidência da igreja e de que o novo Templo sede (foto 2) é maior , mais bonito, e mais moderno.

Foto 2 - Novo Templo
Que o novo edifício é maior e mais moderno não há dúvida, quanto a ser mais bonito depende do gosto de cada um. Muitos alegam que o antigo prédio tinha falhas estruturais que colocavam em risco a integridade física de seus ocupantes. Sabemos que hoje existem técnicas que podem ser utilizadas para recuperar falhas. Poderiam reconstruir um interior moderno e otimizado e manter a fachada original. Não sei o que será feito no lugar, mas o fato é que pouco a pouco a história vai sendo apagada deixando saudades, lembranças que aos poucos serão esquecidas. Parece ser uma característica da denominação, pois existem mais casos como este envolvendo antigas edificações da Assembleia de Deus, como é o caso da AD de Criciúma que não respeitou sequer a população que pediu o tombamento do antigo templo conhecido como Igreja do Relógio. Mas nem tudo está perdido.

Foto 3 - Igr. Luterana de Dois Irmãos
Este é o caso da Igreja Luterana de Dois Irmãos que teve seu primeiro templo, totalmente restaurado e preservado (foto 3) ou ainda a igreja Luterana de Brusque (foto 4) que mantém viva a sua memória no belíssimo templo devidamente preservado. E outras por aí a fora que tem esta consciência. Curiosamente, as igrejas históricas são mais preservacionistas que as pentecostais. Não sei se existe uma razão para isso mas me parece que o movimento pentecostal não dá muito valor aos seus templos. Tudo bem que é só tijolo, areia e pedra, mas por trás do aparato solido existe um legado histórico e comunitário que precisa e deve ser levado em consideração sempre que surgir este tipo de decisão ser tomada. Mas atrelado a este episódio posso perceber outras mensagens nas entrelinhas. E que mensagens são estas.

Foto 4 - Igr. Luterana de Brusque
De um lado vemos pessoas simples, lamentando o fota e saudosos dos tempos em que a comunidade era menor e mais unida, onde todos se conheciam pelos nomes e o calor humano aquecia a frieza do mundo exterior. Do outro vemos instituições a cada dia mais distantes de seus membros onde a preocupação é com a eficácia, a administração e a relação custo-benefício. Já não existe mais o líder que visita seus liderados. A vida em comunidade onde cada um atenta para a necessidade do outro vai sendo departamentalizada e os avisos são dados pelo telão e pelas redes sociais. Muitos doutores e senhores de si e poucos amigos e irmãos de fé.

Uma pena que seja assim. Já não verei mais o lugar onde me decidi por Cristo e onde desci as águas. Sinceramente, espero não voltar lá, outra vez, e não ter que passar e olhar para algo que não veria estar ali.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Se dói é porque faz parte do corpo

As vezes uma cadeira de dentista pode ser inspiradora!
Estava fazendo uns tratamentos odontológicos, outro dia, e durante o processo, minha dentista, perguntou se um determinado dente, que seria extraído, ainda doía, para verificar se havia necessidade de mais anestésico. Ao responder que sim, ela falou algo que me fez pensar: "Se dói é porque ainda faz parte do corpo". Esta frase me fez pensar muito no restante do dia.

Quantas vezes, nós, os cristãos, lamentamos e reclamamos das agruras da vida? Das lutas, dificuldades, das incompreensões por parte daqueles que amamos, enfim, ser um seguidor de Cristo trás muito mais problemas, a luz do mundo, do que prazeres. Fazer parte do corpo de Cristo causa dor e desconforto. Lembro-me, no início da minha conversão, que costuma dizer: "O crente que não passa por dificuldades e lutas é porque tem algo errado em sua vida". Mas porque passamos por tantas provações e incompreensões e enfrentamos tanta resistência e até mesmo o ódio dos nossos opositores?

A resposta é simples: o Evangelho caminha na contramão do sistema. A lógica divina é completamente contrária a lógica humana. Num mundo onde todos buscam por riquezas e ostentações, o Evangelho nos leva a procurar a simplicidade e a humildade. O mundo busca o sucesso pessoal, o Evangelho nos impulsiona a transferir toda a glória para o nosso Criador. O mundo não vê problemas em tirar proveito de determinadas situações para obter certos resultados, já o Evangelho nos leva a tentar fazer as coisas sempre da forma correta. O mundo, influenciado pelo liberalismo e relativismo, enxerga tudo como normal e permissivo, o Evangelho nos leva a agradar a Deus e, com isso, evitar práticas que, sabemos que desagradam o Deus que cremos e servimos.

Enquanto estivermos ligados ao corpo de Cristo sentiremos as dores  do arrependimento por nossos atos que não compactuam com a vontade de Deus. Na verdade, isto é algo maravilhoso, pois funciona como um alerta. Se pararmos de sentir os efeitos, as dores provocadas por nossos erros e atitudes é um sinal de que estamos anestesiados, e um membro anestesiado pode ser arrancado do corpo sem sentir. Mas qual é o anestésico que está levando os cristãos a perderem a sensibilidade?

A falsa sensação de que está tudo bem! Este, talvez seja o maior engodo que tem levado muitos cristãos a baixar a guarda. A doutrina da prosperidade tem levado muitos crentes em busca de realizações aqui nesta terra. Não estou dizendo que é errado prosperar. A prosperidade financeira e material pode ser uma benção desde que não seja o objetivo principal da vida de um seguidor de Jesus. Ela é conquistada com trabalho e planejamento, embora nem todos consigam. O problema é que criou-se uma ideia de que a prosperidade material e financeira está diretamente ligada ao nível de comunhão com Deus. Passando uma falsa sensação de que está tudo bem na vida espiritual. Ora, se isso fosse verdade, pessoas ricas não sofreriam, não teriam depressão e não cometeriam suicídio.

Precisamos voltar, urgentemente, a realidade do Evangelho, que está bem exemplificada nas escrituras. Precisamos entender que as dificuldades e lutas que passamos não são um mal mas sim um sintoma de que estamos no caminho certo, pois quanto mais agradamos a Deus, mais seremos odiados pelo sistema que governa a humanidade. Precisamos entender que as dores qque sentimos tem um importante significado: Ainda estamos ligados ao corpo de Cristo.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Uma vez Punk, Sempre Punk!

Sou mais punk hoje do que era no passado!
Quando eu mudei do Rio de Janeiro para Curitiba, em 1984, tudo o que eu sabia sobre Punk Rock era do álbum The Great Rock'n Roll Swindle, dos Sex Pistols, que um grande amigo, Ganso, havia me presenteado. Mas ao chegar na Capital Paranaense conheci, através de meu primo Edson de Vulcanis, os punks de CWB que frequentavam o Lino's Bar, uma espécie de CBGB da Cidade "Sorriso".

Aos poucos fui me enturmando com os caras e também aprendendo mais sobre o movimento, sua música e sua ideologia. Foi um grande impacto na minha cultura musical, pois até então, meu universo musical era do Hard Rock de bandas como: Led Zeppelin, Deep Purple, Uriah Heep e o complexo Rock Progressivo de virtuoses como: Emerson, Lake & Palmer, Triumvirat, Yes, Focus, PFM, etc. Escutar aquelas músicas minimalistas ao extremo, com suas mensagens diretas, sem frescurar e nem solos intermináveis me ensinou algo que até hoje carrego comigo: Conhecimento e técnica são importantes, mas vontade e convicção são mais importantes. Eu descobri que podia tocar.

Eu sempre quiz tocar, mas nunca fui um bom instrumentista, meu conhecimento na guitarra limitava-se a uns poucos acordes e nenhuma habilidade com escalas e solos. Havia feito uma música para um festival escolar que até ficou legalzinha mas nada mais que isso. Uma vez fui fazer um teste para uma banda, no Rio de Janeiro. Foi uma das experiências mais desesperadoras da minha vida! Os caras me trataram bem e foram super simpáticos mas eu fiquei decepcionado comigo mesmo por entender que eu não tocava nada. Troquei minha guitarra, na época, por um toca discos.

Mas ao ouvir álbuns como: SUB, O Começo do Fim do Mundo, Ataque Sonoro, entre outros, minha visão começou a mudar. Ai conheci o Gustavo, o Careca e o saudoso Edilson Del Grossi, eles queriam montar uma banda e precisavam de um guitarrista. Não pensei duas vezes: comprei uma passagem, fui ao Rio de Janeiro, adquiri um exemplar do jornal Balcão e achei uma guitarra a venda. Fiz a compra, voltei para Curitiba e falei com os caras que eu podia tocar guitarra na banda. Fizemos uns ensaios e montamos a banda Maus Elementos. Foi feito um registro em fita de rolo mas nunca achei esta gravação. A banda era muito ruim mas a nossa vontade de tocar era maior do que a nossa incapacidade.

Depois do fim dos Maus Elementos, montamos o Paz Armada que foi bem bacana e fazíamos um hardcore bem legal. Ainda toquei nas bandas O Corte e no Resistência Nacional, mas por questões financeiras acabei parando por um bom tempo. Mas o que restou desta época foi a certeza de que é possível fazer quando você realmente quer e tem uma razão para fazer. Também ficaram a eterna paixão por bandas como: Cólera, Lixomania, Olho Seco, GBH, Discharge, Dead Kennedys e muitas outras.

Atualmente sou cristão mas aprendi no cristianismo uma coisa muito bacana: Jesus não quer destruir culturas, mas iluminá-las. Continuo curtindo o bom e velho punk rock, continuo adepto do DIY (Do It Yourself), continuo gostando do Lo-Fi mas com uma cosmovisão cristã. Ainda ouço muitas bandas antigas e novas e muitas com conteúdo cristão. Sei que uma grande parte dos punks não aceita o cristianismo e muito menos cristãos tocando punk rock, mas também sei que este pré-conceito existe por duas razões: 1) O péssimo testemunho de vida de alguns "cristãos". 2) Por desconhecerem o Evangelho de Jesus Cristo.

O que fica é: Punk's Not Dead

Deixo aqui, dois álbuns para você curtir: Uma antiga gravação da banda Paz Armada e uma da minha banda atual... Curte aí...





quarta-feira, 8 de março de 2017

Escravas da Liberdade

No dia internacional da mulher é bom lembrar que as mulheres são seres maravilhosos pelo simples fato de serem mulheres!

Eu conheço uma pessoa, que vou preservar a identidade, que quando engravidou, tomou uma decisão: largar o emprego e dedicar-se a criação de sua prole, mesmo sabendo que isso deixaria o casal numa situação financeira mais complicada. Foi uma escolha dela e acordada pelo seu esposo. Ao compartilhar sua alegria e sua escolha com suas companheiras de trabalho ele recebeu uma chuva de críticas dizendo que ela não podia fazer isso pois estaria diminuindo a força das mulheres, etc, etc, etc. Minha pergunta é a seguinte; que tipo de liberdade é esta que te impede de tomar uma decisão e que prega que você não pode fazer desta forma?

É evidente que a luta pelos direitos das mulheres é importante. Que muitas coisas foram conquistadas ao longo da história. É uma luta não apenas importante, mas também necessária para garantir às mulheres seus direitos de ir e vir, como qualquer cidadão. Deve haver a luta, principalmente em sistemas sociais onde as mulheres são tratadas como se fosse de uma classe inferior. O problema não é a luta em si. O problema é quando direitos se tornam deveres a ponto de suprimir outros direitos, como o de fazer uma escolha diferente.

Este é o grande problema do feminismo contemporâneo, ele assume uma visão utópica de um mundo perfeito que na realidade não existe, pois o ser humano, de um modo geral é mau. Tanto para o pensamento criacionista que ve os seres humanos como seres caídos como para o pensamento evolucionista que enxerga os seres humanos como animais mais evoluídos, mais ainda assim animais.

Que neste oito de março, cada um de nós possa rever os nossos conceitos e perceber que na humanidade existem traços que nos fazem iguais mas também existem aqueles que nos tornam diferentes. Precisamos entender que: neste mundo de homens e mulheres o mais importante não é sermos iguais, mas compreender as nossas diferenças respeitando-nos mutuamente para construirmos juntos uma sociedade melhor. Então, feliz DIA INTERNACIONAL DA MULHER.

Então, para não ficar nas minhas palavras deixo aqui um pequeno trecho de uma entrevista com Camille Paglia: feminista, lésbica e ateia. Vale a pena assistir.


quarta-feira, 1 de março de 2017

Modos & Estilos #016 - Tangerine Dream - Phaedra

Até hoje não sei dizer se aquelas motos eram reais ou não!
Sempre que escuto este álbum, lembro-me de uma viagem que fizemos a Campos do Jordão. Durante a subida da serra, com o sol se pondo ao fundo em contraste com uma das curvas da rodovia surgem quatro motociclistas com suas respectivas máquinas em fila fazendo a curva em prefeito sincronismo com a música que tocava no carro. Era Phaedra, da banda alemã, Tangerine Dream. Era um outro tempo, outros amigos e outras experiências.

A Banda

O Tangerine Dream é uma banda de rock progressivo eletrônico, oriunda de Berlim, que iniciou suas atividades em 1967. O grupo foi fundado pelo tecladista Edgar Froese (1944/2015). O TD passou por inúmeras formações que sempre orbitaram em torno de Froese, bem como de várias fazes musicais, indo puro experimentalismo psicodélico, passando pela música eletrônica, o prog mais acessível e até uma produção mais comercial, sem perder a qualidade. Sua fase áurea vai de 1974 até 1982, época em que foram produzidas pérolas musicais como: Phaedra, Stratosfear, Cyclone e Force Majeure, com destaque para o álbum Phaedra, considerado pela crítica e pelo público como a obra prima da trupe.

Phaedra

Lançado em 1974, este é o quinto álbum da banda. É o primeiro lançado pelo selo Virgin e inaugura a fase mais eletrônica do grupo. Como já foi citado, é considerado, por muitos, o melhor álbum lançado pelo grupo. Foi gravado em novembro de 1973 no The Manor em Shipton-on-Cherwell, Inglaterra. Também é o primeiro trabalho a utilizar um sequenciador Moog que acabou por criar uma característica sonora, conhecida como Escola de Berlim. Entre problemas nos ajustes do sequenciador e até a quebra de um gravador o álbum contou com a participação de Monique (esposa de Froese).

Phaedra também foi responsável pelo sucesso da banda fora da Alemanha. É citado All Music Guide como: "uma das obras mais importantes, artísticas e excitantes da história da música eletrônica". Na formação deste disco estão: Edgar Froese, Peter Baumann e Christopher Franke. Foi lançado ainda um single com as músicas Mysterious Semblance at the Strand of Nightmares e Phaedra, em versões ultra reduzidas.

As Faixas

As quatro faixas deste clássico da música são de arrepiar e trazem todo um clima cósmico e meio sci-fi. O álbum começa com a faixa título que toma quase dezoito minutos da obra e é completado por três faixas menores mas não menos espetaculares, que compõe um conjunto magistralmente perfeito. Mal dá para crer que tanto foi gravado em tão pouco tempo com os recursos, hoje, tão escassos da época. Vamos as faixas.
  1. Phaedra (Peter Baumann / Christopher Franke / Edgar Froese) - É uma viagem. A peça tem um clima bem espacial com intervenções sonoras ao longo de um ritmo constante como se estivéssemos navegando por oceanos cósmicos e etéreos. É impressionante as nuances que vão criando climas diferentes ao longo da composição.
  2. Mysterious Semblance at the Strand of Nightmares (Edgar Froese) - Esta faixa inicia como uma continuação da anterior, mantendo um clima de mistério mas ao mesmo tempo de doçura como se estivéssemos numa espécie de descanso da alma.
  3. Movements of a Visionary (Peter Baumann / Christopher Franke / Edgar Froese) - Totalmente experimental, apresenta um laboratório de experiências sonoras com utilização de modulação e eco. Mais uma vez o uso de sequenciador cria um clima hipnótico intermediado por sons e silêncios que compõe uma sinfonia eletrônica.
  4. Sequent C (Peter Baumann) - Com seu clima de "Chegamos ao Fim" Sequent C nos conduz para uma atmosfera de reflexão e contemplação. Excelente.

Conclusão

Phaedra é um marco na história da banda e da música eletrônica. É impressionante como uma obra com mais de quarenta anos de idade soa tão atual e mais impactante agora do que na época. Uma aula de musicalidade e experimentalismo que coloca o Tangerine Dream ao lado do lendário Kraftwerk no panteão da música eletrônica. É um disco obrigatório para quem gosta de boa música e para quem quer conhecer este estilo. Abaixo uma opção de audição.