Todos os dias, milhares de pés percorrem, freneticamente, os quatro cantos do mundo em busca da definitiva fórmula da felicidade. Descalços ou não, articulações e calcâneos suportam tíbias e perônios de corpos tristes. Corpos que caminham para um fim de incertezas, preenchendo vazios com mimos de pouco ou nenhum valor. Corpos que seguem juntos mas não se olham e nem se percebem, apenas prosseguem, como narcisos modernos fitando suas próprias ilusões nos espelhos negros que carregam nas mãos. Mãos que só se estendem para tocar as superfícies sem vida da materialidade absurda que rouba-lhes o tempo. Tempo que já perderam nas empreitadas sem descanso que lhes garante o únicos direitos que possuem: Ter! Obter! Possuir! Gastar o que não podem naquilo que não é pão. Geração tresloucada, sempre tão conectada e paradoxalmente desligada do outro. Geração cujos amigos são fotos tratadas em um editor de imagens qualquer. Geração do Self, voltada para si mesma, que não olha em volta e não pode ver quem está em derredor. Geração sem próximos nem distantes, cujo único valor palpável está na propriedade de coisas para ostentar a posse daquilo que não lhe seguirá na cova. Que coisa! Para finalizar deixo o belo poema de um camarada Thadheu...
Como é que vão as coisas?
Cale a boca, coisa ruim!
Você não está falando coisa com coisa.
A coisa não está preta coisíssima nenhuma.
Você está com muita coisa pra cima de mim
mas eu lhe peço só uma coisa:
deixe a coisa em paz
pra ver como é que a coisa fica.
Alguma coisa me diz que, por uma coisinha de nada,
eu deixei de lhe dizer uma porção de coisas.
Outra coisa: baixe neste centro mas com o espírito da coisa.
Não precisa ser aquela coisa mas, pelo menos,
uma coisa muito louca.
Ou uma coisa tão estranha que,
mesmo que pareça a mesma coisa,
seja coisa do outro mundo.
Pois de todas as coisas, no fim, sempre resta pouca coisa.
Ah, só mais uma coisa: a vida tem dessas coisas.
E coisa que não acaba mais.
Se você não concorda, o que não é lá grande coisa,
escreva qualquer coisa!
Diga qualquer coisa!
Faça qualquer coisa!
Só não me deixe coisando sozinho!
Antonio Thadeu Wojciechowski
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